sexta-feira, 24 de maio de 2013

Brincar é viver


   Na brincadeira há seriedade, na brincadeira há amor, ensinamentos profundos sobre a vida, laboratório para um sonhador. 


   Brincar é viver, é fortalecer a alma e preparar a criança para o futuro. Um futuro mais belo, certamente, se livremente ela brincar. Chega de hora marcada e compromissos todos os dias. Criança precisa de liberdade, pois só assim consegue construir seu mundo e a partir dele enfrentar esse nosso mundo de realidades.
   A realidade é dura, eu sei, mas sendo criança verdadeiramente, a beleza do mundo irá se ressaltar e a criança, força terá para lutar e acreditar que tudo pode mudar!
   Hoje todos pensam que mais vale o conhecimento, mas eu penso que viver é mais valioso e em cada momento de nossa vida esse viver se transforma. Na criança viver é brincar. No adulto viver é ter algumas responsabilidades. No adolescente viver é se aventurar. Em cada momento uma vivência e em cada vivência uma preparação para o que virá. Mas será que as crianças estão brincando?
   Agenda cheia faz parte do dia a dia infantil. Isso me assusta! Balé, natação, inglês, artes, música, karatê e sei lá mais o quê! Aqui em casa a atividade que mais fazemos é brincar. Meu filho fala: “mamãe, vamu bincá? Lá no quato, é bem legal!” E lá vamos nós para mais uma aventura! Isso enriquece, fortalece a alma e o prepara para esse futuro de agenda cheia. Pois para mim, agenda cheia é coisa de adulto e não de criança. Na verdade essa agenda cheia não acho saudável para ninguém. Precisamos ter lacunas, espaços que ainda podem ser preenchidos pela beleza da vida. Um tempinho para olhar o céu e ouvir o canto dos pássaros. Isso me dá força para continuar o trabalho. E quando fico muitos dias envolvida na minha vida, preciso sair e olhar as árvores. Ver seu movimento para elaborar novas formas para o meu bordado. Observar as cores do céu e descobrir novas possibilidades na minha vida. A natureza é inspiradora e devemos ter espaços na nossa agenda para ela.
   Oferecer momentos livres as crianças é um auxílio em seu desenvolvimento. Muitos acham que aulas, atividades direcionadas, escola, jogos eletrônicos é o que ensina. Não invalido nada disso, mas acredito que cada coisa tem seu tempo e tudo deve ser moderado. Temos a vida inteira para ter aulas e utilizar a tecnologia, mas apenas um pequeno período de nossa vida para ser criança e brincar despretensiosamente. A criança está sempre em nós, mas ela vai adormecendo até parecer não existir mais. Por isso, viver a infância em sua plenitude, no ajuda a ser adultos completos, com a criança ainda viva no coração!
   Acreditar que as aulas é que vão ensinar ou que os mais velhos é que possuem os ensinamentos da vida é um equívoco. Não existem melhores professores do que as crianças. Estar presente em suas brincadeiras é ter a oportunidade de ver seu desenvolvimento e aprender a ser feliz de verdade. Um mundo de possibilidades há no brincar. Concentração e entrega também. Se você se permitir será inspirador.

   “Para brincar é necessário estar presente de corpo e alma. Por isso, ao brincar retomamos nosso estado original; estado de unidade”. (Meylí Moraes de Oliveira Lima)
   A unidade se perde ao longo da vida. Nos tornamos pessoas multi tarefas e quanto mais produzimos mais temos. Para a criança o brincar é brincar, o viver é brincar. O foco está nisso e por isso há tanta verdade e ensinamento nesse ato tão simples.
   Muitas vezes, por não darmos valor deixamos de lado e não permitimos o desenvolvimento pleno de nossos pequenos. Estamos na Semana Mundial do Brincar um momento para refletir e resgatar o brincar livre e puro das crianças, onde há grande sabedoria, amor e inspiração para nossas vidas.

sábado, 18 de maio de 2013

Viva o encanto desta rima


   Criança tem um brilho, brilho que só ela tem. Olhar atento para o mundo e para dentro dela também. Criança tem amor, amor puro e sem dor, que mexe com a gente de um jeito transformador.
   Criança é assim, encanta, canta, dança e pula, vibra com o mundo, vive o mundo, o observa com olhar desbravador e cheio de esperança. Se deslumbra com o que vê e absorve até o que não vê. Vive intensamente, por ora, sente inevitavelmente. O que quer e o que não quer, já não sabe mais, é tanta coisa para se aprender... Aprender o que? Ela só sabe viver e vive bem, muito melhor que eu e você, pois aprecia as coisas simples e a isso dá muito valor. Um helicóptero no céu, uma pombinha na mão, pastor eu sou e também nadador. Pode ser uma comida especial ou um pão qualquer, tudo tem valor quando criança é.
   Às vezes parece besteira ou viagem infantil, mas te digo que essa brincadeira tem valor, pois esse é o trabalho mais valioso vindo de uma criança. Besteira é se preocupar, pois o que vale é brincar. O bom é ser feliz, imaginando é que se torna aprendiz.
   Floresta de almofada, prancha de travesseiro, surfar na cama e brincar na cabana o dia inteiro. Imaginar é pouco quando se dá liberdade por inteiro. E o que é liberdade então? É tudo aquilo que vai além da nossa imaginação! Pois até ela já foi podada, apenas na criança ela permanece inalterada. O que fazer então? Torne-se criança ao menos um dia então! Jogue fora os pensamentos e todos seus conceitos, desfrute da liberdade, seja feliz de verdade. Ao final do dia verá que a vida tem outro sabor e é cheia de calor. Saborosa para te mostrar aquilo que você nem parava para olhar, quente para saber que vale a pena viver.
   Criança é assim, com descobertas e manias, frases engraçadas e rebeldia. Corda frouxa que logo aperta, limites existem e se for dado com amor liberta. É duro ser mãe, é duro ser pai, mas com união o filho torna-se capaz. Capaz de que, se já faz tanto? De ir além dos muros que esbarram nele e destroem seu encanto.
   Mundo encantado existe, conto de fadas também. Imaginar um mundo bom, me faz lutar por ele e ir além. Conceitos do mundo estão em mim, mas quero um amor puro, por isso cuido de quem veio de mim e ensino ele a pular o muro.
   O muro ninguém vê, mas quem imaginar verá, ele existe na cabeça e logo logo para o coração irá. Por isso quebre os muros e construa pontes entre você e os seus. No futuro terás acesso ao coração deles e eles ao seu. As pontes abrem novos caminhos e novidade todo mundo quer, mas aquelas que vêm do coração pouco me importa, não é? Será mesmo assim ou me fizeram assim? De coração todo mundo é feito, mas o que nele há? Pedra dura ou água mole, o que há dentro de você? Olhe para dentro o mude o que puder, pois tem alguém imitando o que você é! Seja uma flor num lindo jardim ou um pássaro a voar, folhas na árvore será se deixar o vento te carregar.
   A vida é assim, como um raio de sol, ilumina quem está perto e quem está longe tem dó.
   “Enquanto permitimos que nossa luz brilhe, nós, inconscientemente, damos permissão a outros para fazerem o mesmo.
   Quando nós nos libertamos do nosso próprio medo, nossa presença automaticamente libertará outros.” ( Nelson Mandela)
    Brilhe como uma criança pura e viva na sua estatura. Abaixe-se para entender o que o mundo encantado quer te dizer. Não deixe o medo te dominar, nenhuma força nele há. A força está em você, nisso você pode crer!

   Agora vá viver, é isso que você veio fazer! Enquanto continua a ler, sua criança pode desvanecer!

   
   Antonieta, querida, flauteando com você descubro, uma aprendiz professora que me ensina a viver encantada neste mundo. Obrigada, a você sou muito grata!


terça-feira, 14 de maio de 2013

Tornar-se desnecessária



   A vivência materna me leva a mudanças constantes de pensamentos, reflexões profundas sobre atitudes e buscas intensas por melhores condutas. Mas nada disso interfere em meus princípios, apenas eles se mostram com raízes mais fortes e se ramificam à medida que vou vivendo.
   Nesse “mês materno”, quando se comemora o dia das mães, tenho pensado na importância de me tornar desnecessária na vida de meu filho. Não como forma de abandono, descaso ou passividade, mas como uma conduta natural a ser seguida conforme ele cresce.
   Confesso que pensar nisso, inicialmente, parece um pouco desagradável e meu coração reluta, pois até pouco tempo atrás havia uma necessidade constante de me doar ao meu filho. Doação de tempo, de amor, de brincadeiras, de fazer por ele o que ainda não conseguia... E tenho certeza que ser mãe é se doar, entretanto o que está embutido nesta palavra se modifica à medida que o filho cresce e a mãe amadurece. E são essas mudanças que causam  desconforto.
   Ele cresceu, não é mais um bebê. Suas necessidades mudaram e o meu ato de doação precisa acompanhar esta mudança. Tornar-me desnecessária passa a ser um ato de doação na sua vida, onde saio da frente ou do seu lado para que ele siga sozinho naquilo que já é capaz e que se sente capaz para fazer. E quando ainda não for, preciso incentivá-lo a ser.
   Não sou mais necessária em sua alimentação sendo os braços que levam comida até a boca. Ele maneja muito bem os talheres. Apenas faço companhia para aquele momento, estimulo e ajudo em algumas garfadas. As brincadeiras não dependem mais tanto de mim. Ele pega os brinquedos, tem as ideias, inventa as histórias e brinca. Eu apenas observo, supervisiono e participo quando sou solicitada. Ele percebe suas necessidades e emoções, quando está com fome, quer ir ao banheiro, fica triste ou bravo. Eu o ajudo para que possa se conhecer melhor.
  
   Quando começou a natação o Nathan quase nem conseguia mergulhar e se afogava. Eu precisava estar atenta para que ele não ficasse muito tempo embaixo da água. Hoje, após poucos meses, ele mergulha por longos períodos, nada sem auxílio e diz: “qué nada sozinho”. A cada aula estou me tornando mais desnecessária e em breve estarei olhando sua aula pela janelinha.
   Tornar-se desnecessária é um processo difícil se analisarmos pelo lado egoísta em querer o filho sempre perto e debaixo da nossa asa. Mas essa transformação de doação pode ser magnífica quando olhamos o caminho que já foi trilhado e percebemos que todo o amor está se transformando em segurança e que todo o esforço está levando os filhos mais longe.

   
   Percebo que a minha doação na vida do meu filho está se transformando. Coisas que fazia antes não precisam mais ser feitas e outras atitudes assumem esse lugar. Parar por alguns instantes e deixa-lo ir tornou-se um grande ato de amor. O fazer sozinho que ele às vezes pede é a construção de uma auto-afirmação, da certeza de que ele é capaz, de que pode ir sozinho e de que sabe fazer. Deixá-lo fazer é me doar. Há alguns meses, estimulá-lo a fazer, a ir com outras pessoas, a brincar sozinho era a minha doação em sua vida. Agora me sinto um pouco expectadora, observando e vendo-o florescer. Como uma árvore que plantamos e algum tempo depois sai da terra e vai crescendo, tomando forma, ganhando força, até tornar-se uma grande árvore, que serve de sombra para as pessoas e floresce.
   Estou vendo algumas flores, lindas flores. A cada dia me certifico de que observar este florescer é um ato de amor e uma alegria também, pois vejo  que minhas escolhas estão gerando lindas flores. Também observo  que os padrões do mundo não servem para nada a não ser para você ficar desanimada, pois seu filho ainda não atingiu aquela etapa do desenvolvimento ou precisa adquirir certa aptidão ou comportamento. Cada árvore floresce em um tempo, pois para tudo á um tempo nesta vida.
  
   Me doar observando faz amar ainda mais o que eu faço, que é educar meu filho. Me dá convicção de que amor gera amor e gerar amor deixa as pessoas felizes. Me faz ver que plantar às vezes parece um trabalho tão insignificante, sem valor ou sem resultado, mas que a seu tempo embeleza o mundo com flores, lindas flores que todos apreciam quando passam.
   Tornar-me desnecessária traz novos sentimentos e emoções, nem menores, nem maiores, apenas novos para um coração já repleto das novidades que a maternidade apresenta todos os dias.
Tornar-me desnecessária me ensina a ser livre, pois me doar desta forma é ensinar a liberdade e a gente ensina aprendendo ou aprende ensinando.


"A nossa mais elevada tarefa deve ser a de formar seres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos, encontrar propósito e direção para suas vidas. (Rudolf Steiner)



   Há medida que as situações foram acontecendo e se sucedendo no meu dia a dia, fui refletindo sobre este assunto. Muitas vezes gerou angústia e pensamentos negativos em relação ao meu papel de mãe. Mas nenhuma reflexão tornou-se tão clara como a que tive hoje após finalizar a leitura do texto abaixo, que li em uma das muitas homenagens às mães nas redes sociais.


"Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável." (Khalil Gibran)