quinta-feira, 10 de março de 2016

Ciclos, vivências e estações

   Nossa vida é feita de ciclos, momentos que iniciam e terminam em um determinado tempo. Estações que se modificam a cada por do sol, vivências que mudam enquanto crescemos. Esse é o nosso viver, estar inseridos nesses movimentos, rodando junto, seguindo e permitindo que isto nos transforme e faça-nos ver a vida com outro olhar.
   Aqui em casa procuro treinar meu olhar, coração e pensamento para observar esses ciclos e aprender com eles, especialmente após a chegada das crianças. Desde bebê essa sequência de movimentos é percebida pelo seu desenvolvimento, pela sua superação, compreensão do mundo e mudança constante. E nós adultos temos que nos adaptar e aprender com essas constantes transformações.
   A natureza também mostra seus ciclos através das estações. O cair das folhas, o florescer das árvores, passarinhos cantando, dias mais longos, chuva, sol, frio, calor. E assim também acontece com as comemorações ao longo do ano, que caracterizam nossa cultura: natal, páscoa, festa junina... Épocas onde relembramos histórias, vivenciamos momentos, aprendemos e manifestamos sentimentos. Tudo isso tento passar para meus filhos, ajudando-os a observar e vivenciar um pouco do mundo em que vivemos e daquilo que acreditamos como valores.
   Mas nem tudo é simples de ser compreendido e ai esta o desafio de entrar no mundo da criança e criar historias com elementos palpáveis para que na sua visão de mundo ela consiga perceber esses ciclos e vivencias essas épocas.
   Agora que moramos em uma casa a natureza está muito presente em nossas vidas e ela, por si só, mostra-se para as crianças, que facilmente conseguem perceber suas mudanças.
   Com relação às comemorações do ano, sempre decoramos nossa casa, cantamos músicas e buscamos atividades relacionadas a ocasião para que as crianças participem e entendam o verdadeiro significado das festas, muito além do que o mundo consumista propõe.
   



   Para o Nathan a época mais esperada é o Natal. Ele adora a história do Natal, fazer presentes, decorar a casa e fica triste quando esse momento chega ao fim e temos que desmontar a árvore e o presépio que é feito todo em feltro e decorado com folhas e galhos que ele colhe na natureza. No ano passado tivemos mais mãozinhas ajudando na decoração e como a Ágatha estava maior participou de tudo com mais alegria e interação.    
  
  Para contarmos os dias até a chegada do menino Jesus, preparei um calendário do advento, com vinte cinco bolsinhos bordados e costurados em um feltro. Cada dia de manhã eles abriam o bolsinho correspondente ao dia e encontravam uma surpresa. Algumas delas eu fiz, outras comprei em bazares de natal ou colhi na natureza. E as surpresas eram castanhas, pedras preciosas, enfeites para a árvore, sementes, recadinhos vindos do céu, adesivos para preparar cartões para as pessoas... Foi emocionante acompanhar esses dias e vê-los tão empolgados esperando cada surpresa e guardando-as com tanto carinho. Um momento inesquecível que tornou nosso Natal muito mais especial.

   


   Agora estamos na época da Páscoa e antes mesmo de eu propor algo o Nathan pede por decorações e historias... E essa época transmite muita renovação, começo de um novo ciclo, transformação, mas para as crianças são conceitos abstratos e difíceis de serem compreendidos. Uma forma de ajudá-las nessa compreensão é contar a história da transformação da lagarta em borboleta. 





   E este ano confeccionamos lagartas com restinhos de feltro. Cortei em quadradinho, coloquei uma linha na agulha e o Nathan criou uma família de lagartas. Enquanto isso eu fazia folhas para elas comerem e depois pegamos um galho seco para elas ficarem. Alguns dias depois decoramos a árvore com alguns ovinhos que tinha guardado e modelei coelhos em feltro para passearem pela casa. As crianças brincam muito com todos esses bichinhos e vivenciam a época da Páscoa de uma forma simples, sadia, sem consumismo. Em breve algumas lagartas irão para o casulo e se transformarão em borboletas, deixando a nossa casa ainda mais cheia de vida.
   Também estamos preparando as cestas e os ovos. Por enquanto só fizemos a palha com a casca do milho. Depois faremos a cesta e pintaremos os ovos para presentear as pessoas. As crianças curtem muito vivenciar o processo e isso tem muito mais valor do que comprar tudo pronto e não dar sentido ao que pode ser transformador e enriquecedor para nossas vidas.






  
   E assim vivemos nossos dias... Mostrando as crianças as transformações ao seu redor, situando-as no mundo em que vivem e auxiliando-as a entenderem a passagem do tempo, algo tão abstrato que pode ser vivenciado com muito significado, magia e beleza.
   Esses ciclos da vida nos fazem pensar... Muitas vezes não queremos vivê-los, mas eles acontecem, certamente bem diferente do que imaginamos. Podemos optar por não vivenciá-los e seguir da mesma forma sem passar por mudanças ou rodar junto e ver que a vida é um movimento constante com encaixes, ajustes, surpresas, deslumbramento e descobertas. 

“Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração...”
(Chico Buarque)