quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Dois filhos, dois mundos, uma mãe



   Os aniversários passaram e eles cresceram... Ágatha com 1 ano e Nathan com 5 anos. Eles crescem rápido e o amor só aumenta... O prazer de vê-los crescer tão de perto, acompanhando cada etapa, cada olhar, movimento, palavra é imenso, vale tudo!
   E os dois crescem juntos e juntos se desenvolvem, com diferenças que se complementam. A casa nunca é cheia demais com os dois, mas é bastante vazia sem um deles. Com amor o espaço sempre se amplia, os sons ecoam nas paredes e as brincadeiras são mais divertidas. Estar com eles é aprender que as diferenças não separam, mas aproximam, pois neles há diferenças de idade, de personalidade, de atitude e de desenvolvimento. Mas tudo torna-se um quando brincam, pois o amor une e é isso que aprendemos por aqui!
   Dentro de mim há muito amor, mas amor de mãe tem cansaço, desgaste, falta de tempo, frustrações, tudo junto e misturado, como uma massa de bolo. Coração alegre e angustiado, cheia de vontade e louca para dormir, com muitas ideias e pouco tempo, dividida entre um e outro. E assim é a vida com dois filhos, esses dois mundos que vivo, que são um só e dois ao mesmo tempo. Uma confusão para quem lê e uma grande verdade para que vive ou viveu isso.
   Mundos desconhecidos que vou descobrindo a cada dia, aprendendo a ver beleza nas pedras e a plantar flores no caminho que passo. Uma grande descoberta, que me surpreende, assusta e alegra a todo instante. E acredito que são as melhores descobertas da vida, pois eles são a minha vida, mundos vindos de mim, que um dia foram eu e hoje são mundos que complementam meu mundo.
   Um presente de Deus e uma pedra preciosa, Nathan e Ágatha, não poderia ser melhor, e o melhor ainda está por vir, pois cada dia é melhor quando construímos com amor o mundo em que vivemos.

   Obrigada meus filhos por transformarem meu mundo e por estarem me ajudando a construir um mundo melhor. Com vocês tudo tem mais sabor, o sol brilha mais forte, Deus é mais presente e a vida é mais divertida. Ter filhos é a melhor coisa que existe!






...


"Tu vens, tu vens, eu já escuto teus sinais..."


Há um ano tudo começou a mudar as 20:15, quando Ágatha dava os primeiros sinais de sua chegada. A seguir, momentos intensos entre eu, ela e a dor. Tudo instintivo, irracional e feliz, pois essa dor a traria para meus braços. Não sabia o que me aguardava, apenas queria que ela nascesse de forma natural, humana e tranquila. Não imaginava que esse desejo seria seguido tão ao pé da letra! Em poucas horas, da 1h da madrugada as 3:10 meu trabalho de parto evolui rapidamente e ela, com toda sua intensidade, força e determinação decidiu chegar, sem esperar por nada e ninguém. Eu sentei no sofá e ela foi amparada por meu marido em questão de segundos e logo veio para meus braços. O Nathan e minha mãe assistiram o nascimento e todos nós paramos de raciocinar alguns segundos naquela madrugada. Algo totalmente inusitado, que nunca imaginei que viveria, um nascimento incomum, especialmente após ter uma cesárea.
Um momento único que acredito que até hoje não temos total compreensão, assim como tantos outros momentos que passei neste último ano!

O nascimento de um irmão, de um novo pai e de uma nova mãe! Uma nova família se formou nesta madrugada. E ela chegou para mexer, sacudir e divertir!

Obrigada Ágatha pelo seu sorriso doce e pela sua intensa forma de mexer na minha vida. Com você estou aprendendo que consigo ir além do que eu sou e do que espero ser. Não é fácil, mas cada obstáculo que supero dentro de mim é uma grande vitória que engrandece minha alma! Adoro seu sorriso e sua forma divertida de viver!

30 de julho, uma data que ficará na história... Parabéns Ágatha!

...



Há 5 anos, às 19:25 você chegou neste mundo e veio mudar o meu mundo, me transformando em mãe, trazendo mais amor e me mostrando que o mundo é belo, com seu olhar encantado.


Seu amor adoça meu dia, sua vitalidade traz vida ao meu ser, sua fé alimenta a minha fé, sua calma me traz paz.


"Um lindo guerreiro nasceu

Nathan presente de Deus

Com olhos de águia a olhar

o mundo a conquistar..."


Obrigada por existir, ser quem você é! Te amo do tamanho do céu!!!

30 de setembro. Parabéns Nathan!

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Pé de "figos"

   

   Há alguns meses estamos vivendo em outra sintonia com o mundo, com as pessoas e com nós mesmos. Moramos numa casa com quintal e isso tem nos transformado a cada dia. Pode parecer um simples fato, algo banal, mas para nós, que desejávamos há tanto tempo, está sendo transformador, a medida que a natureza penetra em nosso ser, o sol nos aquece o balanças das árvores nos move adiante e o canto dos pássaros nos preenche. A natureza aqui é abundante e pura, bruta, sem jardim planejado e canteiro feito. As árvores crescem naturalmente e o que se vê pela janela é verde até o horizonte.
   Logo que nos mudamos imaginei que passaríamos horas no quintal, que o Nathan brincaria de mil e uma formas, assim como brinca na escola. Achei que construiria castelos, subiria em árvores, mexeria na terra e mergulharia de forma intensa nesse espaço novo. Mas não foi assim que aconteceu... Fiquei tentando entender, tentava inventar brincadeiras e fazer novas descobertas lá fora. Às vezes funcionava, outras vezes ele pedia para voltar para dentro. Ficava me questionando por que ele não ficava no quintal, como eu achava que deveria ficar. Não obtive resposta!
   O tempo passou e cada final de semana fomos trabalhando para arrumar nossa casa e transformá-la em nossa. Meu marido sempre pegava ferramentas em um ranchinho que o dono da casa permitiu que usássemos. E lá o Nathan também encontrou suas ferramentas para fazer seus trabalhos e ajudar os adultos. Ele ficou encantado ao mexer com machadinho, enxada e pá. Começou suas construções, a janela de um prédio. Cada um que nos visitava ajudava na sua obra e assim ele foi se apropriando do nosso quintal. Todos os dias eu abria o ranchinho para ele pegar suas ferramentas e trabalhar. Estava encontrando seu espaço de brincar. Começou a criar muitas coisas, tentou subir em mais árvores e encontrou seu lugar no mundo, no pé de “figos”, como ele diz. Todos os dias ele sobe nessa árvore para afiar suas ferramentas, montar armadilhas, amarrar cordas, inventar histórias, contemplar a natureza. Enfim, brincar abundantemente, como sempre achei que brincaria quando tivéssemos um quintal.



  
   O tempo passou e o vínculo se formou. Não somos mais uma família que se mudou para esta casa. Nós somos esta casa, nós somos este quintal e esta natureza está dentro de nós. Percebi que isso não é imediato, que o tempo é necessário para esse reconhecimento e entrosamento. Como é bom poder olhar para tanta beleza todos os dias, mas, mais do que isso, é fazer parte dela, interagir, criar e absorver o que vem dela. E é isso que estamos fazendo! Começamos uma horta, fizemos fogo de chão, descobrimos um lindo bambuzal no terreno ao lado, ganhamos um balanço... Estamos plantando, mas já estamos colhendo: sorrisos lindos, crianças tranquilas, brincadeiras sem brinquedos, pé no chão, muitas ideias e milhares de execuções. Ágatha que antes ficava parada ao meu lado no quintal agora engatinha tranquilamente, brinca com a areia, passa pela vala, se levanta, pede para ir no balanço. O Nathan é desbravador, sempre tenta algo diferente nas árvores e adora balançar a irmã no balanço. Felicidade em ver que este quadro é a nossa vida emoldurado por natureza e preenchido por ela também.
   Dar tempo ao tempo não é fácil. Todo dia olho minha horta pela janela para ver se as plantinhas já cresceram alguns centímetros. Mas, se deixamos o tempo agir, tudo floresce, tudo ganha vida e tudo vai além do que imaginávamos, é só esperar!





Se temos de esperar, 
que seja para colher a semente boa 
que lançamos hoje no solo da vida


Se for para semear, 
então que seja para produzir 
milhões de sorrisos, 
de solidariedade e amizade. 

                                                          (Cora Coralina)

sexta-feira, 1 de maio de 2015

No balanço da rede

   Desde que a Ágatha nasceu passamos por dificuldades para adaptarmos nossas vidas a essa nova vida que estava chegando. Muitas tentativas, muitas emoções, muita intensidade... E o sono dela tirava nosso sono. Era muito difícil fazê-la dormir durante o dia e suas sonecas não duravam mais do que 45 minutos. Então ela dormia muitos 45 minutos ao longo do dia, sempre lutando com o sono ou talvez com a forma que eu a fazia dormir. Às vezes era meia hora para acalmá-la no colo o que me deixava muito desgastada.
   Tentei muitas técnicas, todas que fiz com o Nathan e que deram certo, com ela não funcionaram. Fiz aquela trouxinha bem apertada, mas como ela se mexia muito não dava certo. Também tentei dormir junto, acalmá-la no berço, carrinho. O sling funcionou, mas não conseguia ficar o dia todo, todos os dias com ela no sling. Precisava de uma solução onde pudesse deixá-la descansando para eu descansar também. Os meses passaram e as dificuldades continuavam. A esperança era o tempo passar e esse período passar também!
   Um dia estávamos cansados do nosso apartamento, queríamos movimento, algo novo e decidimos comprar uma rede para relaxar e para o Nathan brincar. Nossa sala ficou mais relaxante... E numa tarde tentando fazer a Ágatha dormir minha faxineira sugeriu que eu a colocasse na rede, pois ela tinha feito com os filhos e tinha dado certo. Quando coloquei fiquei embalando e ela dormiu muito tranquila. Aquela cena foi inacreditável. E no dia seguinte tentei de novo e deu certo. E assim ela foi se aconchegando na rede e eu relaxando enquanto cantava e embalava minha filha. Logo instalamos uma rede no seu quarto e essa passou a ser sua cama nas sonecas diurnas. Ela dormia muito rápido, a música nem acabava e ela já estava dormindo. Tudo ficou muito diferente, a rede nos trouxe paz, as sonecas já não eram mais um problema. Ela aprendeu que ali era seu lugar de dormir e quando ia colocando a Ágatha na rede ela já ia relaxando. E sempre que havia uma dificuldade no seu sono na cama a rede estava lá para nos ajudar!
   O tempo passou, hoje ela está com nove meses e a rede continua sendo sua companheira de sono. Ela também dorme no colo, mas percebo que na rede ela se sente livre para se mexer, se aquietar e esperar o sono chegar.
   Recentemente a rede me trouxe paz novamente. Em uma das noites que fico em casa sozinha com os dois e tenho que fazê-los dormir, passei por momentos tensos, aqueles que saem fora do planejado e da rotina. A Ágatha foi dormir, mas acordou 45 minutos depois, chorando muito parecia estar com dor e não conseguia voltar a dormir. O Nathan estava com sono, se preparando para ir para a cama, comendo uma fruta na cozinha e foi quando apareci com a Ágatha. Aí ele me perguntou: “mãe, quem vai me fazer dormir?” Eu disse: “a mamãe!” E ele perguntou: “mas como você vai fazer com a Ágatha?” E eu respondi: “não sei filho, vou encontrar alguma solução!”
   Enquanto ele comia a maçã fiquei pensando, desesperada, no que ia fazer. E de repente tive uma ideia: a rede! E perguntei: “filho, que tal você dormir na rede da irmã? A mamãe fica cantando a música que canta para a irmã e você dorme. O que você acha?” E ele respondeu: “pode ser!” Preparei uma mamadeira para pequena, sentei no banquinho, ele deitou na rede e começamos mais uma aventura. Fiquei cantando, ele se mexeu um pouco até que se ajeitou e começou a respirar pesado, logo já estava dormindo. Ela foi relaxando no meu colo enquanto tomava a mamadeira e dormiu também. Nessa hora, repirei fundo, coloquei a Ágatha na cama e fui para a sala relaxar os músculos. Nem acreditava que tinha conseguido fazer os dois dormir e que a rede, mais uma vez, tinha ajudado a solucionar o sono. E esse foi o primeiro episódio desse novo balanço na rede.        Outros dias aconteceram e deram certo também. Quando percebo que o Nathan está muito cansado coloco ele na rede, ela no colo e os dois dormem juntos.
Parece uma situação simples, algo fácil, mas cada mãe enfrenta suas dificuldades na maternidade. E essa foi mais uma que superei. Conseguir fazer os dois filhos dormirem, sendo que cada um vive um momento diferente: ele quer historias para dormir e entende se precisa ir agora ou precisa esperar um pouquinho. Ela precisa de calmaria para fechar os olhos e pegar no sono senão fica prestando atenção em tudo e não entende o que é esperar ou ir agora.


   
   Necessidades diferentes, filhos diferentes que ganhei de presente, mas que até no sono conseguem se unir quando necessário. Isso é amor, companheirismo, compreensão e vitória. E é no embalo dessa rede que vamos curtindo momentos juntos, não só de sono, mas de brincadeiras também, de um acordar divertido com o irmão invadindo a rede para dar ‘oi’ para a pequena ou de um ‘boa noite’, quando ele sai da rede e vai brincar para ela poder dormir.
   A rede trouxe paz, embala nossos sonhos e relaxa nosso corpo. E assim seguimos, com o balanço da rede movimentando nossa vida!


EU A REDE E A PAZ
(Autor: Henrique R. de Oliveira)


Relaxar o corpo numa rede
vagarosamente pra lá e pra cá.
aliar o silencio ao aconchego
para a paz se instalar.

transformar o tarde no cedo
retirando o nunca do pensar
ser coragem sem ser medo
para o sonho se concretizar.

Por mais que a vida exija batalha
vencê-la, sem prejudicar ninguém
do som das teclas ao balanço da rede
eu e a paz no vai e vem.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

De cabana a tenda


 
 Nos últimos meses a palavra que mais pronunciamos e vivenciamos é mudança. Mudamos de casa e, finalmente, para uma casa. Estamos desfrutando do que sonhávamos há algum tempo, um quintal. E aqui estamos vivendo um pedacinho do céu, um mergulho na natureza de uma forma intensa, com árvores por todos os lados, frutas, passarinhos, barulhos estranhos e incomuns, sendo o maior deles o silêncio. Sim, o silêncio faz barulho, principalmente quando nossos ouvidos estão viciados no barulho da cidade, com motos e carros a mil, obras, ambulância, helicóptero, gente falando, TV alta. Aqui, todos esses barulhos são agressivos ao ouvido, pouco se ouve música ou assiste TV, pois o canto dos pássaros e o barulho das árvores, além de encantar nossos ouvidos, preenche o coração. À noite, as luzes da cidade não incomodam, ao invés disso, apreciamos a luz da lua começar a brilhar no céu e contemplamos as estrelas sobre nossas cabeças. Nossa casa não fica mais suja da poeira das obras ao nosso redor, mas sim da terra que pisamos em nosso quintal.

   Às vezes me sinto na serra ou morando no interior, como digo “na roça”, mas continuamos em Florianópolis. Apenas encontramos uma rua pouco habitada, em um bairro com natureza exuberante. Um verdadeiro contraste com o centro da cidade de onde viemos.

   

   Em apenas um mês meus filhos já vivenciaram muitas coisas que talvez em anos não iriam experimentar morando em um apartamento. O quintal nos dá possibilidades diferentes todos os dias, mesmo quando parece que nada vai acontecer, um pedaço de madeira faz toda a diferença, transforma-se em um bastão para desenharmos nossa família na terra. As folhas secas que caem das árvores são nossas roupas, que cada dia tem cores diferentes. Também podemos brincar de amarelinha ou desenhar um sol enorme, logo em seguida apagar tudo e observar as formigas caminhando pelo chão.
   Aqui estamos aprendendo muitas coisas. Já conhecemos o barulho da gralha azul e do aracuã e quando vemos um pica-pau no pé de caqui do terreno ao lado paramos tudo e vamos observá-lo. As borboletas também enriquecem a paisagem, amarelas, coloridas, escuras, dentro de casa, fora de casa. Enfim, a natureza está em tudo e nós estamos aprendendo a estar nela também.


   
   

   As brincadeiras tem novo cenário. O quarto é só para dormir e agora temos uma brinquedoteca onde as crianças aprendem a brincar juntas, compartilhar brinquedos e espaços. As cabanas transformaram-se em tendas no quintal, onde o Nathan vai descansar com os bichinhos e a Ágatha vai descobrir o mundo. Os lençóis são presos nas árvores e o pallet é a cama para o Nathan descansar. Uma nova forma de enxergar os ambientes e abrir o olhar para além das quatro paredes da casa, que são antigas e sem planejamento. Mas o que isso importa se o que há de mais belo e planejado está no que podemos ver através dos vidros da casa? O velho torna-se insignificante, pois sempre tem algo novo preenchendo nosso olhar lá fora. Almoçar olhando as árvores, brincar olhando as flores no jardim, estender roupa sentindo o vento no balançar das folhas. Tudo isso é revigorante, restaurador e inspirador. O dia torna-se mais significativo. Conseguimos perceber o ritmo da natureza, do nascer do sol ao entardecer. A natureza muda a paisagem a todo instante, as folhas refletem a luz do sol de diferentes formas ao longo do dia. Os pássaros cantam em diferentes momentos. Sempre há algo novo, uma flor que morreu, outra que nasceu. As laranjas que caíram no quintal, os caracóis que vieram com suas casas na parede depois da chuva. Tudo pode ser apreciado, pois está aqui para isso. Um belo quadro que muda todos os dias para continuarmos aprendendo e vivendo melhor.
   Estamos numa nova energia, em um novo movimento, aprendendo novas coisas e desaprendendo coisas antigas. Desapegar do velho faz parte do novo, isso dá medo e ao mesmo tempo encoraja. Meus filhos só buscam o novo, não possuem velhas roupas em seu corpo. Por isso, abraçam o novo com toda sua força. A Ágatha chegou aqui engatinhando e ficando em pé apoiada nos objetos. Agora, engatinha numa velocidade triplicada, caminha apoiada nos objetos, sobe todos os degraus da casa e sua maior diversão no momento é provar as folhas que existem no quintal e sair engatinhando atrás da cachorra. Sim, nossa família aumentou e agora temos alguém especial, a Belinha, que veio encher nossas vidas de alegria e deixar o ambiente mais ativo do que já é. As crianças adoram correr com ela e nós adoramos ver tudo isso! Uma cachorrinha especial, que surgiu através de uma vizinha do nosso apartamento. Ela é muito dócil, mas sofreu maus tratos e ainda é arisca e assustada. Estamos criando laços e nos apaixonando a cada dia, para em breve estarmos totalmente integrados e unidos. Mas chegar em casa e ter uma cachorrinha esperando abanando o rabo é um felicidade e tanto! O Nathan já conquistou seu coração, quando ele chega seu comportamento muda. Eles brincam, ele diz que ela brinca de chutar com ele e se divertem a todo momento. Um sonho realizado, pois a cachorra só viria quanto tivéssemos um quintal. Agora, segundo ele, só falta o bode, pois o cavalo já tem no haras aqui perto, mas o bode ele quer ter para colocar cela e ir visitar seu amigo que mora aqui perto. Mas acho que esse só num sítio mesmo!
   A cada dia experimentamos algo novo. Um novo sabor, uma nova textura, um novo olhar. Apreciar o que é belo é um treino, pois a paisagem cinza e sem vida domina a cidade e quando nos deparamos com tanta beleza natural nem conseguimos desfrutar de tudo. Mas aos poucos vamos tirando esse casco duro e nos moldando ao movimento das árvores e dos pássarsos.

“A natureza não faz milagres, faz revelações”
(Carlos Drummond de Andrade)


E que estas revelações cheguem em nossas vidas para que vivamos mais e melhor!




“Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O parque

 
  Hoje fomos ao parque, sentimos o sol aquecer nossa pele e o vento nos refrescar. A sombra das árvores tomava conta dos brinquedos e as brincadeiras aconteciam independente de tudo isso. O vai e vem das crianças, o entra e sai dos pais com os filhos, os brinquedos na areia... Parque tem movimento, ação, relação. Mães que se encontram, pais que conversam, filhos que se tornam amigos e brincam sem parar. O parque é sempre igual, mas torna-se diferente a todo instante, com as brincadeiras que se transformam e as diferentes crianças que compõem o cenário. Hoje meu filho brincou de bombeiro, transformou a gangorra em cataputa, atacou os amigos com uma espada emprestada, balançou, correu, sentiu a areia nos pés e escorregou.
   Há alguns anos o parque faz parte de nossas vidas. Durante esse tempo, conhecemos muitos brinquedos e formas de brincar, muitas delas totalmente fora do tradicional. Também observei os diferentes comportamentos do meu filho frente aos desafios encontrados, aos relacionamentos e como ele explora o mesmo brinquedo de inúmeras formas.

   Nesse tempo, eu também tenho aprendido muito... Diferentes formas de ser mãe em um parque, de deixa-lo ir e saber que do chão não passa, perceber que subir no escorregador pelo lado contrário é mais interessante e desafiador do que descer e que estar presente na brincadeira e se distanciar são ações que se relacionam quase que constantemente.
   O parque traz mudanças de comportamento. Quando as crianças são pequenas, corremos atrás deles todo o tempo. As cenas chegam a ser engraçadas, de pais em cima da casinha, correndo ao redor do brinquedo com medo que o filho passe direto e caia lá de cima. Mãe segurando o filho para não ser arremessado longe pelo balanço ou auxiliando nas corridas e caminhadas. A cada ano, o tempo ao lado do filho diminui e o tempo de conversa aumenta. Os espaços entre uma corrida e o descanso no banco também são maiores. E hoje, percebi que o tempo sentada em um banco observando o filho brincar pode durar quase toda a permanência no parque. Acho que em breve levarei companhia para eu conversar enquanto ele brinca. Um livro também pode ser uma boa opção. O bom disso tudo é que adoro vê-lo brincar. É inspirador ver as crianças correndo e inventando historias, sendo crianças em sua essência e desfrutando da infância.



   Hoje minha companheira de banco foi a Ágatha, descansando no sling enquanto o irmão brincava. Em breve ela também estará lá, correndo e vivendo a infância em sua plenitude. E eu retornarei as primeiras idas ao parques, correndo atrás dela, ensinando alguma brincadeiras e observando-a descobrir tantas outras.
   Ciclos que passam e voltam, como o ir e vir das ondas do mar. Sempre o mesmo movimento, mas nunca igual. Antes éramos só nós dois nas tardes de parque, agora somos três, vivendo esse ciclo da infância, tão rico, belo e inspirador. Brincar no parque é viver, observar essa brincadeira é renovador. Algo como voltar ao que um dia eu fui e sentir novamente a areia nos pés e a criatividade infinita de reinventar o mesmo brinquedo de tantas formas diferentes. Eu no banco e ele cada vez mais longe dele. Nathan solto, livre, seguro, feliz, leve, criativo no seu tempo, do seu jeito. E Ágatha a espera desse momento, olhando o que podia até o sono chegar. Dois tempos, dois momentos plantados na mesma terra. E o parque faz parte do adubo, ajuda crescer e ter raiz forte.
   O parque é uma parte da arte de educar. E nele encontramos refugio e liberdade para ser o que queremos ser.


   
   Combinações perfeitas de uma tarde: crianças, parque, sol e vento. Uma fruta, muita água, como é bom esse tempo!


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Amor de irmão

   O amor chegou quando ela chegou na minha barriga, sem ainda sabermos que era ela. E foi crescendo, tomando forma e enchendo nossos corações, a medida que ela crescia e tornava-se mais real em nossas vidas. E assim foi surgindo a irmã do Nathan e todo o amor que existe entre eles. Amor de irmão, que nasceu quando ela começou a crescer dentro de mim e se tornou real quando ela começou a crescer no nosso meio.
   O Nathan sempre participou de tudo: foi em consultas e ultrassom, ajudou a arrumar o quarto, fez desenhos para decorá-lo, ajudou a abrir os presentes da irmã, ouvia o que ela tinha a dizer na minha barriga e inesperadamente viu ela nascer, em um parto domiciliar totalmente não planejado. Acredito que tudo isso firmou esse amor dentro do seu coração e criou esse afeto entre os dois.
   Amor que emociona, que é singular e maior do que qualquer explicação. Amor que dá gargalhada quando o irmão passa por perto e faz uma gracinha. Amor que chora quando vê o irmão chorando. Amor que quer estar perto, que tem cuidado e está atento a tudo. Um amor que muda o astral da casa, é só deixar os irmãos juntos para tudo ser mais alegre, divertido e cheio de descobertas.
   Sorriso sempre presente, brincadeira constante, afeto, cuidado... Não sabia que amor de irmão tinha tanta força e intensidade desde o primeiro olhar. Não imaginava que a irmã faria parte de suas brincadeiras mesmo sem saber brincar. Ela é motivo de sua alegria, faz a manha passar, o choro diminuir, o amor crescer e o ensina que a mãe e o pai são dos dois, mas que tem amor para todo mundo.

   
   Uma companheira de 5 meses que não deixa mais seus dias solitários, está sempre presente e adora sua presença. Desde que nasceu, ela tem um tradutor de seus sentimentos e desejos, pois ele faz questão de expressar o que supostamente ela está querendo, falando, além das suas falas as dela também. Ele diz: “mãe a Ágatha disse: eu quero um pedaço de banana” ou “ mãe, a Ágatha disse que quer assistir aquele vídeo” e assim por diante.
   Cuidar dos dois é difícil, mas parece mais fácil, pois um interage com o outro de forma tão linda que o tempo passa rápido. E essa interação me dá força e animo para continuar a luta, enfrentar as dificuldades e desfrutar da beleza de ter dois filhos. Apesar de passamos por momentos tensos e dificuldade de dar atenção a um e a outro, estar com os dois é gostoso, pois eles juntos tem um sabor especial, uma ligação de amor e uma interação constante.

   
   
  Nasce um novo filho, nasce uma nova mãe e uma nova família se forma, com um amor ainda maior, o amor de irmão. Às vezes enciumado, carente, querendo atenção, é um amor que chegou forte, intenso e transformou nossas vidas. Nosso lar é mais vivo, vibrante, com gritos e risadas, novas brincadeiras e novos desafios. Mas esse amor é o que motiva e faz tudo ter mais sentido. Ter irmãos faz a minha família ser mais consistente e faz nós, pais, termos mais razões para sermos felizes.



"Pra você guardei o amor 
Que aprendi vendo os meus pais 
O amor que tive e recebi 
E hoje posso dar livre e feliz 
Céu cheiro e ar na cor que o arco-íris 
Risca ao levitar..."