Dia lindo de sol, vontade de ficar na rua e absorver todo o
calor em pleno inverno. E a ideia que nunca é esquecida surge: ir a praia!
Depois de muitas tentativas, todas canceladas pelo frio e chuva que insistiam
em aparecer quando nos programávamos para ir, hoje, sem programação nenhuma
fomos à praia!
Toda aquela preparação para ir, check list para ver se nada
tinha sido esquecido, baldinhos, boia de tartaruga, lanche e esteira, enfim
nossos pés afundaram na areia, nosso olhar se perdeu no mar e nosso corpo brilhou
no sol.
Eu estava ali, para mais uma tarde com as crianças. Decidi não
levar nenhum trabalho, pois às vezes absorver o momento, acrescenta mais do que
tentar trabalhar e se divertir ao mesmo tempo. Fui de corpo e alma, para
relaxar meus pés naquele horizonte exuberante e oxigenar minhas células com a
energia do mar. Só isso já bastava, a praia por si só já me renova, mas além
disso tive uma aula com meus filhos enquanto esticava meu corpo na esteira e
via-os em movimento naquela paisagem incrível.
Aprendi sobre concentração. Eles trabalharam muito com seus baldes e pás. Encheram e esvaziaram seus baldes inúmeras vezes, totalmente focados no que estavam fazendo, jogando areia para um lado, água para outro, colocando areia no trapiche, depois o limpando com água. Mãos que se sujavam e se limpavam no vai e vem de areia e água. Olhares atentos ao que estavam fazendo sem se distrair com o que estava ao redor. Eu me transformei num mero elemento da paisagem que os contornavam e eles, ativos e em movimento só pararam para lanchar e mais tarde ir embora.
Aprendi sobre liberdade. O movimento livre do corpo, a dança
das mãos, o sorriso espontâneo, a liberdade da mente e da alma em viver aquele
momento com intensidade. A liberdade de ser quem você é e ser criança na sua
totalidade. Liberdade para se sujar por inteiro e depois se limpar, achar
beleza em tudo, até numa tampinha de garrafa esquecida na areia. Liberdade de
viver, ser, sentir, observar, se divertir e mover-se para onde deseja ir.
Aprendi também a relaxar. Estar naquele momento por inteiro,
de corpo, alma e coração, sentindo a areia, o silencio que é interrompido pelo
barulho da gaivota ou de um barco passando, o vai e vem das ondas, a consistência
da areia, a brincadeira das crianças e o repouso da minha mente naquela
paisagem que me acolheu nessa tarde, com um sol que me energizou e um mar que
me transformou.
O relaxamento é muito mais do que um passeio em um lugar incrível, como aconteceu hoje. Esse relaxamento deve nos acompanhar diariamente, mas ele só toma conta do nosso corpo se estamos inteiramente no momento presente. Posso relaxar enquanto lavo uma louça e tenho alguns minutos quieta, quando troco a fralda do filho e aproveito para fazer brincadeira e desfrutar daquele tempo com ele ou quando executo algum trabalho. Relaxar não é colocar os pés para cima e não fazer nada. Alcançamos um verdadeiro relaxamento quando focamos nossa mente no que estamos fazendo, repousamos nossa alma naquela atividade e posicionamos nosso coração naquela ação que esta sendo executada. Isso renova as energias, pois estamos inteiramente no presente. O que passou não faz parte deste momento e o que virá ainda não chegou, por isso não importa. Viver dessa forma nos impulsiona para frente, nos da um novo entendimento do mundo e nos ajuda a ter certeza de quem somos, do que queremos e auxilia nossos próximos passos.
Viver assim é um grande desafio, pois nossa mente vive em um
vai e vem de pensamentos. Ao conviver com crianças percebemos essa atitude constantemente,
pois suas mentes existem para o presente, seus corpos se movimentam no agora e
sua alma absorve o hoje.
Nessa aula que tive com meus filhos percebi que há seis anos
me transformei numa esponja e vivo numa condição de absorção total desse
universo infantil. Observar meus filhos brincando, ouvir suas historias e ver
suas atitudes frente a determinadas situações me ajuda a dar o próximo passo. Acredito
que essa busca por absorver o que vem deles é uma tentativa de me concentrar
mais nas minhas atividades, adquirir uma liberdade que já tive e se perdeu ao
longo dessa caminhada chamada vida e relaxar em cada situação que vivo,
diminuindo assim uma vivencia interna de ansiedade que carrego há tantos anos.
Essa imersão nesse infinito mar trouxe-me a certeza da
missão que tenho como mãe e educadora dos meus filhos. Inicialmente era só uma
sensação, já que tinha me tornado mãe estava cumprindo com meu dever. Mas neste
ano tive uma certeza muito grande de que este papel não era somente um dever de
mãe, mas sim uma missão de vida a ser cumprida e para isso deveria ser
executada com toda a dedicação e afinco. A partir do momento que essa certeza
tomou conta do meu ser obtive clareza das minhas atitudes até então e força
interior para mudar o que ainda é necessário. Essa certeza trouxe-me paz e
motivação para continuar educando meus filhos e absorvendo deles o que ainda
meus poros conseguem absorver.
Sinto que estou enchendo, inflando, meus poros estão quase
preenchidos. O que vem a seguir é ser esmagada, apertada, comprimida para que
essa água escorra de dentro dessa esponja e inunde outros corações. Não sei
como será esse processo, o que vem a seguir. No momento tenho apenas sensações,
sentimentos e vontades que me cercam. Mas, se essa inundação for semelhante a
que vivi, será transformadora. A imensidão do mar molhando os grãos de areia...
Tenho muito pra contar
Dizer que aprendi
E na vida a gente tem que entender
Que um nasce pra sofrer
Enquanto o outro ri
Mas quem sofre sempre tem que procurar
Pelo menos vir a achar
Razão para viver
Ver na vida algum motivo pra sonhar
Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar
(Tim Maia)