Estava a sua espera. Não sabia
quando viria e de que forma chegaria a este mundo, mas aguardava tudo ser no
seu tempo, mesmo que já estivesse exalando ansiedade, afinal já se passavam 40
semanas e alguns dias e nenhum sinal de sua chegada. Meu médico, animado e
convicto disse que logo entraria em trabalho de parto. Tentei me agarrar em
suas palavras e ficar tranquila, apesar de ser quase impossível fazer a segunda
parte! Estava com medo de não entrar em trabalho de parto e ter que induzir e
talvez não conseguir um parto natural como gostaria muito. Mas continuei
esperando... Estava tudo bem com a Ágatha, seus batimentos, sua posição,
líquido na bolsa. Só faltava ela querer vir para este mundo real.
Alguns dias se passaram...
Acordei com disposição, como quase nunca acontecia. Dei uma geral na casa,
estava tudo cheiroso e os meninos chegaram a noite, por volta das 20h. Eu
estava relaxando no sofá e o Nathan veio brincar comigo e com a Ágatha. Apertou
a barriga mais forte, como não costumava fazer. Mexeu para um lado, para outro,
apertou e brincou. Alguns minutos depois senti um líquido escorrer pelas
pernas. Que alívio, a bolsa estourou. A pressão na barriga estava indo embora e
minha ansiedade também. Em breve ela chegaria, que alegria!
Ligamos para o Dr. Fernando que
nos orientou para aguardar as contrações começarem. E logo iniciaram, por volta
das 20:30h. Estava tudo tranquilo, eu sentada no sofá respirando fundo quando a
contração começava. Aos poucos se intensificaram. Ficar quieta no quarto foi
necessário, com pouca luz e barulho, respirando fundo, tentando encontrar
posições que aliviassem as dores. E essas dores eram fortes, mas no pensamento
eram aceitas pois seriam para algo bom, o nascimento.
Por volta da meia noite estava
com muita dor e decidimos ir para a maternidade. Minha mãe ficou com o Nathan e
nós partimos, pensando que por lá ficaríamos. Aos ser examinada descobri que
estava com 2cm de dilatação e ainda tinha um longo caminho pela frente. Meu
médico e a plantonista acharam melhor voltar para casa. E era o que eu queria
também, ficar no meu canto escuro e quentinho e não naquele ambiente
desconfortável do hospital. Chegamos em casa 1:30h e fui direto para o quarto e
meu marido foi cuidar do Nathan que tinha despertado naquela hora.
As contrações estavam mais
frequentes, a dor intensa e junto com ela um gemido, involuntário quando
soltava a respiração. A dor tinha som e ele ajudava a passar pelo processo. Mas
era alto e o Nathan nem conseguia dormir. Tudo estava muito intenso e meu
raciocínio não existia. Era apenas instinto, sem pensamento ou emoção, apenas
lembranças das conversas do pré-natal, das leituras que fiz e das conversas com
outras mães, pois experiências anteriores eu não tinha. Não tinha noção de
tempo, espaço e do que acontecia ao meu redor. Era apenas eu e a dor no
processo de nascimento. A dor aumentou, os gemidos também e meu marido me levou
para o chuveiro. Por lá fiquei e não conseguia sair, era muita dor, não sabia
como suportaria aquilo por muito mais horas, afinal estava só com 2cm de
dilatação e precisava chegar a 10cm. Sentia vontade de fazer força, muita
força, mas nada aliviava. Já estava desejando um remédio, uma cesárea ou
qualquer coisa que me trouxesse alívio. Minha mãe ligou para o Dr. Fernando,
explicou a situação e o detalhe: estava com vontade de fazer cocô. Hora de ir
para a maternidade!
Rapidamente vesti a roupa e me
dirigi à porta. A cena era: o Nathan chorando, pois não queria que a gente
fosse a maternidade e eu com dificuldades para caminhar. Uma pausa na sala para
mais uma contração. Eu me contorcia, coloquei a mão por dentro da calça e
percebi que ela estava chegando, senti sua cabeça. Quando falei isso meu marido
me levou para o sofá, sentei, ele puxou minha calça e ela nasceu. Nessa ordem e
com essa rapidez. Ele quase não teve
tempo para ampará-la. Não sei direito como tudo aconteceu, só sei que estava no
sofá com minha filha nos braços olhando para mim, com um olhar intenso e calmo.
Ela pouco chorou, nasceu tranquila e rápido, muito rápido. Logo a aquecemos com
uma coberta e uma touca para não perder calor. Liguei para o Dr. Fernando, que
já estava a caminho da maternidade e disse para ele vir que a Ágatha tinha
nascido. Isso tudo aconteceu por volta das 3h da madrugada, duas horas e meia
após saber que estava com 2cm de dilatação. Uma evolução de trabalho de parto
veloz e inesperada. Enquanto esperávamos fizemos um registro do momento com
nossa família ampliada. Nathan assistiu tudo e ficou feliz por estarmos ali e
não na maternidade. Logo que ela nasceu ele sentou do meu lado para conhecer
sua irmã. Após 15 minutos Dr. Fernando chegou para retirar a placenta e fazer
todos os procedimentos. Como ele não faz parto domiciliar, não tinha nenhum
material. Utilizou luvas cirúrgicas da minha vizinha estudante de medicina, fio
dental para amarrar o cordão e meu marido utilizou uma tesoura de cozinha para
cortar o cordão umbilical. Sem contar as inúmeras toalhas que minha mãe usou
para limpar todo o sangue da sala.
Até retirar a placenta sentia um
pouco de dor, depois senti um enorme alívio
E logo fui para o chuveiro me lavar para que o médico pudesse me
examinar. Por onde passava deixava um rastro de sangue. Forramos minha cama
para que pudesse deitar e ser examinada. Sofri um pouco de laceração e
precisava receber alguns pontos, mas estávamos muito bem e o doutor gostaria de
nos deixar em casa, para que não precisássemos ficar internadadas seguindo o
protocolo da maternidade. Entretanto, não possuía materiais para os
procedimentos e cuidados pós-parto. Ele caminhava pela casa tentando achar uma
solução. Até que conseguiu falar com a Mayra Calvette, enfermeira obstétrica
que faz parto domiciliar. E ela logo veio com tudo necessário para cuidar de
nós duas. Meu quarto virou um centro cirúrgico, totalmente adaptado as pressas
para essa situação inesperada.
Anestesia local e alguns pontos
em mim. Ágatha permanecia quietinha. O dia amanheceu e ainda estávamos ali.
Agora a Ágatha recebia os cuidados da Mayra. Nasceu com 2.980kg, 50cm e bons
reflexos. Como ela estava enrolada num pano, precisou tomar um banho para
limpar o cocô que era difícil de sair da pele e se vestir. Depois foi minha vez
de tomar banho e me arrumar também. A queda de pressão dificultava para
levantar e caminhar.
Com tudo isso acontecendo o
Nathan ficou excitado e só foi dormir as 7h da manhã. Minha mãe ficou limpando
a casa inteira que estava cheia de sangue e auxiliando a equipe no que eles
precisavam. Sem planejamento tudo fica mais complicado.
Minha filha tinha nascido a menos
de 12h e eu estava em casa, deitada no sofá, ao lado do meu filho e do meu
marido. Não existe sensação melhor que essa!
Foi bom estar em casa, viver a
experiência do parto natural. Não vivenciei a emoção esperada no nascimento,
pois tudo foi muito inesperado e rápido e quando paro para lembrar não lembro
dos detalhes, apenas que senti sua cabeça no meio das minhas pernas e alguns
segundo depois estava olhando para ela nos meus braços. Mas vivi algo único,
quase raro. Um parto natural desassistido após uma cesárea. Isso prova que o
parto é algo natural, feito pela mulher. Um momento pessoal, singular que se
desenvolve muito melhor se tiver o mínimo de intervenção. O que vivi mostra que
a criança tem força, expressa o que quer e nos mostra desde o nascimento como quer
vir ao mundo e o que fará nele.
Segundo Dr. Fernando Pupin e a
Mayra meu parto foi atípico, principalmente por ter sido após uma cesárea.
Rápida dilatação e expulsão, em casa, sem nenhum profissional por perto. Tudo
fora do comum.
Minha filha quis nascer assim,
dessa forma preciosa e sem intervenções. Já faz dois meses que sinto sua
intensidade no choro, nos movimentos, no olhar e aos poucos estamos nos
conhecendo. Esse início é difícil e requer paciência e amor. Mas pensar nesse
nascimento faz-me lembrar que ela não esta aqui para passar pela vida e sim
para vivê-la com intensidade.
Essa postagem não poderia
terminar sem um agradecimento especial a esses dois queridos profissionais que
me atenderam com amor e respeito, que fizeram tanto por mim no pós-parto. Nem
tenho palavras, mas toda vez que olho para minha filha lembro de vocês e
agradeço por fazerem parte dessa história. Pessoas que fazem a diferença, que
mudam o mundo e são profissionais humanos, de bom caráter. Parabéns a vocês Dr. Fernando Pupin e Mayra Calvette!
Nenhum comentário:
Postar um comentário