Há tanto viver em tão pouco tempo
ou pouco tempo para tanto viver... Hoje vivi muito, anos da minha vida em
poucas horas de conversa. Compartilhei vivências da infância até hoje, entre goles
de café e chá, e as frases só tinham pausa para degustar o bolo que comemos.
Vivemos anos juntas e muito mais
anos separadas. Na vida virtual nos reencontramos e naquele momento tive
certeza que nossas vidas nunca tinham se separado. Desde então alimentamos o
sentimento de um reencontro real, que finalmente aconteceu. Relembrar o que vivemos
juntas, compartilhar o que vivemos separadas, programar novos encontros e
seguir a vida pensando que a qualquer momento podemos nos cruzar pelas curvas
dessa ilha.
Reencontrei minha professora de
infância, uma pessoa doce e amável que com sua fala tranquila me contou
histórias e com suas pequenas mãos mostrou a imensidão da arte. Reencontrei seu
olhar profundo e singelo, aquele mesmo que via quando criança, todos os dias
quando apertava sua mão ao entrar na sala de aula. Seu ouvido atento continuou
ouvindo o que eu dizia, mesmo eu não sendo mais criança e seu coração atento
buscava pela essência da minha alma, mesmo quando conversávamos sobre as coisas
simples da vida.
Sabe aqueles encontros marcantes
que temos na vida? Esse foi um deles! E não poderia ser em outro momento, pois
o momento foi perfeito! Percebi como a vida pode ser simples quando voltamos a
infância, como a simplicidade pode se fazer presente mesmo na complexidade da
vida adulta. Relembrar a infância fez-me ter certeza de como ela é viva dentro de
mim e o que eu sou é a transformação dela. E essa vivência trouxe clareza para mim, pois vivi com muita intensidade.
Estudei numa Escola Waldorf e
tenho isso como um presente que ganhei na minha infância, pois lá vivi o que
dificilmente viveria em outra escola. Lá desenvolvi habilidades que permanecem
na minha vida até hoje e lá encontrei pessoas especiais... professores que
entregaram conhecimento com sua alma para que em mim o gosto por aprender
aflorasse. Professores que viram além de mim e mostraram o caminho que poderia
trilhar. Pessoas que plantaram sementes e hoje percebo que essas sementes se
transformaram em árvores frutíferas. Frutos de criatividade, de pensamentos, de
aprendizados, de habilidades e de tantas outras coisas que conduzem minha vida.
Além de ser grata percebo a
importância de um educador. Muito mais do que passar o conhecimento para uma
criança, entregar a si mesmo para que a criança floresça. Um conhecimento
entregue com amor penetra na alma. Um aprendizado enraizado no coração se
carrega por toda uma vida. E nós, como mães e pais também somos esses
educadores. E a pergunta que fica é: será que estou entregando o que tem de
mais precioso em mim para que meu filho floresça? As sementes estão sendo
plantadas com amor?
Muitas vezes nos prendemos aos
papéis, rótulos e conhecimentos que precisamos passar. Mas sem amor, sem alma,
sem entrega, nada disso vale, tudo se perde, tudo escorre pelo ralo e se perde
nas memórias e rotinas diárias. A minha entrega é que faz ser diferente. O
pedaço de mim que vai junto com o que quero ensinar é o adubo para essa semente
germinar. Mas será que eu permito entregar-me? Tirar um pedaço dos meus
sentimentos já formados e dos meus movimentos já prontos para que outro ser tão
pequeno se forme. Despedaçar-me para formar outro ser, como isso será possível?
E a resposta certa é: com amor! Com amor a gente consegue tudo! O amor alcança
tudo, é o elo condutor, é a força sempre presente que impulsiona tudo. O amor
nunca falha!
E foi esse amor que conduziu nossas vidas todos esses anos. Separadas, mas sempre ligadas por esse
fio condutor. Nunca imaginei que minha querida professora estivesse dentro de
mim por todos esses anos com tanta força. E bastou ela morar novamente na minha
cidade para que nos reencontrássemos, com a mesma troca de olhares, mas com
olhares diferentes sobre nós mesmas, nossas vidas e nossos sonhos. Olhares
estranhos e familiares que logo que conectaram, pois os anos distantes não romperam
esse fio de amor que uniu nossas vidas e entre voltas, curvas e laços proporcionou
esse reencontro lindo.
Foi tão lindo que ficou registrado
na alma, sem fotos e vídeos. Apenas lembranças no coração...
Tia Bell, tão amada pelos alunos
e sempre inesquecível na minha vida. Além de letras, números, músicas e
histórias, me apresentou um novo mundo. E parte do mundo que vivo hoje você
ajudou a criar, colocando parte de você em tudo que me ensinou.
Gratidão a essa vida, a esses
encontros e ao amor, que faz meu coração bater mais forte, que faz toda a emoção
ter que ser traduzida em palavras para eu conseguir dormir tranquila. Um
coração cheio de emoção torna-se um coração aflito. Um coração com emoções
expressadas torna-se um coração leve e pronto para novas experiências.
Que possamos viver com emoção,
mas com nossos corações leves para os encontros e reencontros dessa vida!
Quanto amor traduzido em palavras! Linda história Fer.
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