domingo, 18 de junho de 2017

Reencontro

   Há tanto viver em tão pouco tempo ou pouco tempo para tanto viver... Hoje vivi muito, anos da minha vida em poucas horas de conversa. Compartilhei vivências da infância até hoje, entre goles de café e chá, e as frases só tinham pausa para degustar o bolo que comemos.

   Vivemos anos juntas e muito mais anos separadas. Na vida virtual nos reencontramos e naquele momento tive certeza que nossas vidas nunca tinham se separado. Desde então alimentamos o sentimento de um reencontro real, que finalmente aconteceu. Relembrar o que vivemos juntas, compartilhar o que vivemos separadas, programar novos encontros e seguir a vida pensando que a qualquer momento podemos nos cruzar pelas curvas dessa ilha.



   Reencontrei minha professora de infância, uma pessoa doce e amável que com sua fala tranquila me contou histórias e com suas pequenas mãos mostrou a imensidão da arte. Reencontrei seu olhar profundo e singelo, aquele mesmo que via quando criança, todos os dias quando apertava sua mão ao entrar na sala de aula. Seu ouvido atento continuou ouvindo o que eu dizia, mesmo eu não sendo mais criança e seu coração atento buscava pela essência da minha alma, mesmo quando conversávamos sobre as coisas simples da vida.

   Sabe aqueles encontros marcantes que temos na vida? Esse foi um deles! E não poderia ser em outro momento, pois o momento foi perfeito! Percebi como a vida pode ser simples quando voltamos a infância, como a simplicidade pode se fazer presente mesmo na complexidade da vida adulta. Relembrar a infância fez-me ter certeza de como ela é viva dentro de mim e o que eu sou é a transformação dela. E essa vivência trouxe clareza para mim, pois vivi com muita intensidade.

   Estudei numa Escola Waldorf e tenho isso como um presente que ganhei na minha infância, pois lá vivi o que dificilmente viveria em outra escola. Lá desenvolvi habilidades que permanecem na minha vida até hoje e lá encontrei pessoas especiais... professores que entregaram conhecimento com sua alma para que em mim o gosto por aprender aflorasse. Professores que viram além de mim e mostraram o caminho que poderia trilhar. Pessoas que plantaram sementes e hoje percebo que essas sementes se transformaram em árvores frutíferas. Frutos de criatividade, de pensamentos, de aprendizados, de habilidades e de tantas outras coisas que conduzem minha vida.

   Além de ser grata percebo a importância de um educador. Muito mais do que passar o conhecimento para uma criança, entregar a si mesmo para que a criança floresça. Um conhecimento entregue com amor penetra na alma. Um aprendizado enraizado no coração se carrega por toda uma vida. E nós, como mães e pais também somos esses educadores. E a pergunta que fica é: será que estou entregando o que tem de mais precioso em mim para que meu filho floresça? As sementes estão sendo plantadas com amor?

   Muitas vezes nos prendemos aos papéis, rótulos e conhecimentos que precisamos passar. Mas sem amor, sem alma, sem entrega, nada disso vale, tudo se perde, tudo escorre pelo ralo e se perde nas memórias e rotinas diárias. A minha entrega é que faz ser diferente. O pedaço de mim que vai junto com o que quero ensinar é o adubo para essa semente germinar. Mas será que eu permito entregar-me? Tirar um pedaço dos meus sentimentos já formados e dos meus movimentos já prontos para que outro ser tão pequeno se forme. Despedaçar-me para formar outro ser, como isso será possível? E a resposta certa é: com amor! Com amor a gente consegue tudo! O amor alcança tudo, é o elo condutor, é a força sempre presente que impulsiona tudo. O amor nunca falha!

   E foi esse amor que conduziu nossas vidas todos esses anos. Separadas, mas sempre ligadas por esse fio condutor. Nunca imaginei que minha querida professora estivesse dentro de mim por todos esses anos com tanta força. E bastou ela morar novamente na minha cidade para que nos reencontrássemos, com a mesma troca de olhares, mas com olhares diferentes sobre nós mesmas, nossas vidas e nossos sonhos. Olhares estranhos e familiares que logo que conectaram, pois os anos distantes não romperam esse fio de amor que uniu nossas vidas e entre voltas, curvas e laços proporcionou esse reencontro lindo.

   Foi tão lindo que ficou registrado na alma, sem fotos e vídeos. Apenas lembranças no coração...


   Tia Bell, tão amada pelos alunos e sempre inesquecível na minha vida. Além de letras, números, músicas e histórias, me apresentou um novo mundo. E parte do mundo que vivo hoje você ajudou a criar, colocando parte de você em tudo que me ensinou.

   Gratidão a essa vida, a esses encontros e ao amor, que faz meu coração bater mais forte, que faz toda a emoção ter que ser traduzida em palavras para eu conseguir dormir tranquila. Um coração cheio de emoção torna-se um coração aflito. Um coração com emoções expressadas torna-se um coração leve e pronto para novas experiências.


   Que possamos viver com emoção, mas com nossos corações leves para os encontros e reencontros dessa vida!


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