A vida de mãe nos leva a novas escolhas, novos pensamentos e
atitudes. Uma nova visão do mundo se forma, com audição mais aguçada e resgate
da nossa própria infância. Acredito que isso tudo vem com a maternidade, bem
como questionamentos de como encaixar o que antes era tão perfeito como
trabalho, marido e lazer. Inserir o filho na rotina louca, me encaixar na
rotina dele, voltar a trabalhar, ficar em casa, creche, babá, vovó... muita
coisa para pensar, pouco tempo para executar e se preparar para tanta mudança.
O mundo é assim, rápido, sem esperas, com pressão, prazo,
horário, moldes e rotinas. Quem entra na corrida não percebe, quem está fora
dela tem vontade de acionar um freio, para ver se tudo anda mais devagar. Uma
árvore florida no caminho, onde? Passei tão rápido que nem deu tempo para ver.
Um passarinho cantando? Ah, já passou, nem consegui escutar. Meu filho aprendeu
algo novo. Não consegui ver, tive ficar até mais tarde no trabalho. A vida
passa como um rio, se não sentimos a água naquele momento ela nunca mais
voltará. Passará outra água, mas nunca a mesma. Sem perceber deixamos de nos
banhar em muitas águas, tendo a certeza de que virão outras, muitas vezes na
ilusão de que serão melhores ou tão boas quanto aquela que acabou de passar.
Vejo a maternidade desta forma, como um rio que me refresca
e me faz viver momentos únicos. Às vezes vem como uma enxurrada, com grande
volume de água, mas também é calmo e tranquilo.
A vontade de apreciar esse rio correndo em minha vida me
levou a cuidar do Nathan desde que ele nasceu. Meu principal trabalho é ser
mãe, educar, vivenciar com ele suas conquista, auxiliar no que tem dificuldade,
ter ideias de atividades, pesquisar sobre educação, ler, mostrar para ele o que
há de belo no mundo e dentro do nosso coração. “Por favor”, “obrigado” e “eu te
amo” também fazem parte dos ensinamentos. Dar amor, carinhos e beijos a
qualquer hora do dia. Mostrar que as plantinhas precisam de água e que a água
também serve para lavar as frutas. Ensiná-lo a ter iniciativa nas tarefas que
lhe cabem e a trabalhar em equipe quando o assunto é arrumar a mesa, colocar
roupas para lavar e organizar os brinquedos.
Viver dessa forma me levou a novas descobertas... No meio de
leituras e pesquisas fui apresentada a um livro onde aprendi a fazer brinquedos
para o Nathan. E desses brinquedos surgiu a vontade de uma nova atividade
profissional, onde pudesse ter uma renda
e trabalhar perto do filho. Percebi que isso era possível e continuei
caminhando. Nessa nova jornada, encontrei uma querida professora de bordado na
escola Waldorf onde estudei quando criança. Lá, pude aprimorar minhas
habilidades manuais para melhor confeccionar os brinquedos que iria vender.
Tudo foi fluindo naturalmente... Um passo de cada vez, com encomendas, rapidez
no bordado e ideias criativas (não consigo viver sem elas). Redescobrindo
minhas habilidades e aprendi a trabalhar perto do filho. Sem culpa, sem
saudade, com amor e certeza do que estava fazendo.
Me vi como mãe empreendedora, como nunca imaginei que seria.
Me vi como artesã, resgatando aprendizados da escola. Me vi como mulher multi
tarefas, ainda assim feliz por poder participar ativamente da educação do
filho. Me vi feliz, realizada, trabalhando no meu ritmo, sem fazer parte da
corrida maluca do mundo.
Nem todo mundo consegue viver assim, nem todo mundo quer
viver assim. Nem sempre é fácil. Alguns acham que eu deveria estar construindo
uma carreira de sucesso, outros acham que deveria colocar meu filho na creche.
Alguns acham que tudo isso é perda de tempo, outros acham que para viver bem é
preciso ter dinheiro.
Eu quero construir uma vida de sucesso. Para isso, preciso
dedicar tempo aquilo que me é importante, meu filho, meu marido, minha família,
meus amigos. Perder tempo vivendo, para mim é ganho. Ganhar dinheiro e perder
tudo isso para mim não vale a pena. Penso que muitas escolas são depósitos de
criança e muito mais vale, neste início de vida aprender e viver com os pais,
pois nós somos os verdadeiros educadores de nossos filhos.
Viver dessa forma não tem preço. O dinheiro pode faltar ou
parecer que não é suficiente. Mas temos outras coisas em nossa casa que não tem
preço. São tesouros guardados em nosso coração fruto de nossas vivências e
histórias diárias. Isso o dinheiro não compra e nenhum trabalho supre. São
riquezas do coração, que compartilhamos livremente com quem quiser parar para
dar um “bom dia” ou trocar umas palavras.
Minha vida é simples, simplesmente feliz. Em cada bordado
tem um história. Cada linha é costurada com sentimento e memórias. Os
brinquedos passam pelo controle de qualidade chamado Nathan e sempre são
elogiados pelo marido. Minha empresa é mutável, ora está no sofá, ora está na
cama do Nathan, ora na mesa da sala, ora na cozinha. Sua organização contém
brinquedos, pedaços de bolacha, linhas jogadas no chão e recebe cuidados
rigorosos com agulhas, tesouras e alfinetes. O tempo investido nela depende das
encomendas, mas muito mais do quanto a família precisa de mim. Filho doente,
ritmo diminui, marido de férias, ritmo aumenta. E esse é o meu empreendedorismo
materno, com ritmo próprio e apoio da família!
Viver dessa forma assusta a maioria, mas me diverte. Alguns
dias são difíceis, mas logo alguém me anima e sigo caminhando. A jornada 2013
começou em ritmo mais acelerado. Novos produtos e junto com eles uma parceira
especial, como minha querida professora de bordado. Dama de
ideias, arquitetura do pano, a elegância do tecido, a delicadeza do bordado,
tudo feito a mão e criado com amor. Somos nós, Arquitetando Ideias & Damado Pano. Bordados e amizade crescendo juntos. Pareceria e aprendizado trilhando
um novo caminho. Junto se vai mais longe e juntas vamos para bem longe...
Ser mãe empreendedora é fazer um trabalho de amor. Amor pelo filho, amor por mim e por tudo que existe de mais precioso na minha vida. É estar aberta ao que o mundo me apresenta
de novo. Estar disposta a me molhar por inteiro nesse rio que não para de
correr. Intenso, imenso, incessante, abundante, vivo e criativo. Sempre igual,
mas nunca o mesmo. O rio da minha vida...
Como um rio
Thiago de Melo
Thiago de Melo
Ser
capaz, como um rio
que leva sozinho
a canoa que se cansa,
de servir de caminho
para a esperança.
que leva sozinho
a canoa que se cansa,
de servir de caminho
para a esperança.
E
de levar do límpido
a mágoa da mancha,
como o rio que leva
e lava.
a mágoa da mancha,
como o rio que leva
e lava.
Crescer
para entregar
na distância calada
um poder de canção,
como o rio decifra
o segredo do chão.
na distância calada
um poder de canção,
como o rio decifra
o segredo do chão.
Se
tempo é de descer,
reter o dom da força
sem deixar de seguir.
E até mesmo sumir
para, subterrâneo,
aprender a voltar
e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.
reter o dom da força
sem deixar de seguir.
E até mesmo sumir
para, subterrâneo,
aprender a voltar
e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.
Como
um rio, aceitar
essas súbitas ondas
feitas de águas impuras
que afloram a escondida
verdade das funduras.
essas súbitas ondas
feitas de águas impuras
que afloram a escondida
verdade das funduras.
Como
um rio, que nasce
de outros, sabe seguir
junto com outros sendo
e noutros se prolongando
e construir o encontro
com as águas grandes
do oceano sem fim.
de outros, sabe seguir
junto com outros sendo
e noutros se prolongando
e construir o encontro
com as águas grandes
do oceano sem fim.
Mudar
em movimento,
mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio.
mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio.
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