o mundo como
deveria ser
o mundo imenso como o mar
infinito ao entrar
cheio de surpresas e frescor também
Nos olhos de uma criança se vê
o mundo a crescer
com expectativas e sentimentos
livre de preconceitos
Nos olhos de uma criança se vê
o mundo a brilhar
como o azul do mar.
O mar inundou nosso verão, preencheu nossas férias e refrescou nossa alma.
Este verão tem sido de calor intenso,
muitas vezes quase insuportável, e como moramos no litoral, a praia nos rodeia.
Então mergulhamos de cabeça e fomos quase todos os dias nos refrescar no mar. Tivemos
diferentes experiências com a textura da areia, o movimento das ondas, a cor da
água, o azul do céu e a crescente desenvoltura e entrosamento do Nathan com o
mar. Ele já teve muitas experiências nos outros verões, mas neste começou meio
arredio.
No primeiro dia, como não íamos há
muitos meses, ele quase nem quis ficar na beira do mar. A água era salgada,
tinha onda e nem sei mais quais desculpas ele dava. Levamos seu novo presente
de Natal, uma prancha e ela não saiu da areia. Fomos cheios de expectativas e
voltamos arrasados, principalmente por saber o quanto ele gosta de água. Mas continuamos
nossas vivências. Depois fomos a mares mais agitados, onde gostou de chutar as
ondas e se molhar inteiro com isso. No outro dia, além de chutar foi pular as
ondas com seu pai e gostou tanto que quis repetir a dose. Mas na repetição já
furaram as ondas com mergulhos e não pararam mais desde então. Agora, a
diversão dele é mergulhar no fundo, pular as ondas e levar muitos “caldos”, com
onda na cara, mergulhos inesperados e alguns litros de água salgada ingeridos.
Vê-lo brincar na beira do mar é inspirador,
tanto quanto a beleza ao redor. O vai e vem das ondas, move-se assim como ele
corre da areia para o mar. A brisa refresca e o inspira a fazer castelos,
bolos, piscinas e muitas outras brincadeiras.
Nesse crescente relacionamento do Nathan
com o mar vi a necessidade de dar tempo para uma pessoa existir. Existir,
crescer e ser, no seu ritmo, no seu tempo, do seu jeito. Por mim, desde o
primeiro dia já colocava a prancha no mar e ele em cima para surfar. Mas o
tempo dele não era esse. O tempo dele ia muito além disso, muito além dessa ação
óbvia. Um entrosamento profundo entre ele e o mar, um mergulho mais profundo em
sua alma para extrair atitudes mais aventureiras, sem medos que só foram
possíveis com essa sequência de fatos que relatei, chutar, pular e mergulhar
nas ondas. Uma vivência mais rica de diferentes mares e areias, juntos a convívio
com pessoas que o ensinaram e estimularam a tais atitudes. Observar pessoas,
algo que faz muito bem e que o enriquece grandemente. Um existir profundo,
muito além do imediato.
Tempo para existir, tempo para ser quem
você deseja ser. Será que isso é possível ainda hoje em dia? O que você quer
ser? Como deseja existir neste mundo? O tempo não volta e também não se
adianta, apesar de vivermos acelerados. Mas cada um tem seu tempo, sua
história, sua vida. Não há padrão para um desenvolvimento, o que há é tempo
para que essa vida brote, transforme-se e floresça. E esse tempo pode ser
oferecido ou roubado de cada um de nós e também podemos oferecê-lo ou roubá-lo
de alguém.
Isso faz-me lembrar de um trecho bíblico
em Eclesiastes sobre o tempo:
Tudo tem um tempo próprio
Existe um tempo próprio para tudo, e há uma época
para cada coisa debaixo do céu:
um tempo para nascer e um tempo para
morrer; um tempo para plantar e um tempo para colher o que se semeou;
um tempo para matar, um tempo para
curar as feridas; um tempo para destruir e outro para reconstruir;
um tempo para chorar e um tempo para rir; um tempo
para se lamentar e outro para dançar de alegria;
um tempo para espalhar pedras, um tempo para as
juntar; um tempo para abraçar, um tempo para afastar quem se chega a nós;
um tempo para andar à procura e outro para perder;
um tempo para armazenar e um para distribuir;
um tempo para rasgar e outro para
coser; um tempo para estar calado e outro tempo para falar;
um tempo para amar, um tempo para odiar; um tempo
para a guerra, e um tempo para a paz.
(Eclesiastes 3, 3-8)
E assim vivo a experiência de aprender a deixá-lo
existir, no seu tempo, do seu jeito. Eu apenas mostrando o caminho para que ele
ande no seu ritmo, do seu jeito, na maioria das vezes diferente do meu, mas
confesso parecer muito mais emocionante e cheio de graça. Essa
experiência me ensina a reavaliar meu tempo e minha existência, não com arrependimentos,
mas com vontades e sonhos de fazer diferente e melhor, aceitando o meu jeito e
aprendendo a respeitar o tempo que preciso para continuar existindo.
Cuidar de alguém e educar, participar ativamente da
descoberta que meu filho faz do mundo me leva a descobertas profundas sobre o
meu mundo e sobre minha existência nele.
Fernanda, tudo bem?
ResponderExcluirCheguei até aqui através do compartilhamento da Raphaela, do Maternar Consciente.
Amei esse texto, até parecia que vc estava descrevendo a relação do meu filho com o mar e da nossa, como pais, em observar e respeitar o tempo.
Essas fotos parecem Floripa...vc é daqui?
Beijo