quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Minha Querida Escada


   Há algum tempo Nathan ganhou uma escada de presente. Inicialmente seria para auxiliar na sua higienização, no sobe e desce para lavar as mãos e escovar os dentes no banheiro. Também iria ajudar na nova atividade que estava adorando fazer, observar a máquina de lavar trabalhando. E para isso tinha que colocá-lo numa cadeira toda vez que queria vê-la e tirá-lo logo após. Com a escada, ele poderia subir e descer sozinho. Menos trabalho para a mamãe e para o papai.


   A escada chegou e eu, na minha inocência, tinha certeza que seria usada somente para aqueles fins. Mas, quando ele percebeu que subindo na escada conseguia alcançar lugares que até então só podia ver de baixo e que poderia fazer coisas que ainda não conseguia por falta de tamanho, levava a escada por onde ia. Começou a acender e apagar a luz da sala, do quarto, depois foi para a pia da cozinha ver o que tinha por lá, em um outro móvel ver os remédios, chás. E mais tarde deu uma passadinha no banheiro, para ver os cremes, desodorantes e tudo mais que tinha por ali.
   Vendo tudo isso, pensei: como pude ser tão inocente em pensar que ele só iria usar a escada para escovar os dentes e ver a máquina? Então pensei: agora tenho que ficar indo atrás dele o tempo todo, pois só mexe onde não deve ou onde é perigoso. Acho que vou jogar essa escada pela janela! E depois lembrei: não dá, temos tela em todas as janelas!!! Mais tarde, pensei: a escada pode ser útil para seu desenvolvimento. E logo em seguida: ele pode participar das coisas que eu faço, me “ajudando” e assim se sentir mais incluído.
   Bem, descartando os pensamentos anteriores e me firmando neste último, comecei a utilizar a escada como minha aliada. Quando ia lavar a louça, ele trazia a escada e ficava ali, brincando com algo e às vezes até lavando uma louça comigo. Ou então, dava uma ajudinha na preparação do suco, mexia, provava e se lambuzava também.
   Ao invés de só ver a máquina, começou a me ajudar a colocar a roupa para lavar e isso se tornou uma divertida brincadeira. Primeiro escolhendo as roupas e ele dizendo de quem é, depois levando as roupas para a lavanderia. Aí, em cima da escada ele vai colocando uma a uma na máquina e dali para frente pode deixar por conta do Nathan que ele acompanha todo o andamento da lavação. Se está brincando com outra coisa e a máquina faz barulho, vai logo ver o que está acontecendo. E quando termina a operação ele fala: “aboo” (acabou).
   Além disso, aprendeu que o espelho do banheiro é para a mamãe se embelezar e tenta imitar algumas das ações, como colocar o óculos, passar desodorante, tirar a sobrancelha... Tudo com supervisão, claro!


   E com isso, a escada corre esta casa, como o Nathan corre atrás da bola. Quando menos espero ele sai e volta empurrando a escada para onde deseja ir. Percebi que este novo “bem”, de grande valor no nosso lar, contribui para o desenvolvimento do Nathan, principalmente para ele vivenciar com mais intensidade as atividades da casa, que anteriormente eram feitas somente pelos adultos, mas que agora ele está inserido e, à medida que cresce, pode contribuir também.
   Percebo ele feliz ao meu lado quando estou envolvida com esses afazeres. Sempre que o incluo em atividades que normalmente uma criança não faria, penso em ensiná-lo como pode ser prazeroso e divertido o que para muitos adultos é chato, como lavar a louça, cuidar da casa, cozinhar, arrumar, etc. Acredito que essa inclusão pode torná-lo mais participativo a medida que for crescendo e quando formar o seu lar, irá ter atitudes sem machismo, discriminação, apenas contribuindo com aquilo que ele sabe fazer e consegue fazer.
   Por que essas tarefas precisam ser chatas? Eu estou aprendendo que podem ser divertidas! Tudo isso por causa da uma escada... apenas dois degraus que levaram o Nathan a um novo mundo de descobertas, a um novo universo divertido em que ele faz o que a gente faz. Existe coisa mais empolgante do que isso para uma criança?
   Já para os adultos nem sempre é empolgante, muitas vezes é desesperador, pois esses degraus causam mais bagunça e fazem o trabalho ficar mais lento. Em contra partida, torna-se mais divertido, pois o peso da responsabilidade some frente ao que se pode compartilhar com a criança. Paciência para ensinar, amor para ensinar e tempo para aprender. Como leva tempo para aprender tudo que uma criança pode ensinar. E como leva pouco tempo para uma criança aprender o que um adulto quer ensinar. Acho que precisamos ser mais crianças e, ao invés de descer nossos degraus para encontrá-las, devemos subir os degraus que elas estão subindo e encontrá-las frente a este novo horizonte que existe através do olhar de uma criança. Um horizonte de descobertas a cada instante, de simplicidade a cada momento, diversão garantida, tédio transformado em criatividade e amor, o mais puro amor.


   Minha querida escada, nossa querida escada. Tão simples, tão normal e tão intensa. Nos levando e um nível mais elevado, possibilitando uma nova visão.

Meu horizonte
não tem limite!
Sigo em frente,
depois do horizonte,
se pegar a estrada,
fico acomodada,
não vou chegar...
Se pular a cerca,
mesmo que me perca
pra fugir do espinho,
encontro o caminho,
vou me superar.

 Ivone Boechat

...

6 comentários:

  1. Como sempre seus textos sao lindosssss! Parabens pelo filho lindo que vc tem! Bjs

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  2. Olá, descobri seu blog pelo grupo Montessori do face, e adorei...
    Estou lendo seus posts, vc escreve muito bem.
    Estou iniciando um blog e te convido a me conhecer também.
    www.varaldospassarinhos.blogspot.com
    BJS

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  3. aqui em casa é o banquinho. eu já comprei ele com segundas intenções, mas não fazia ideia de como ele seria aliado em tudo.
    com o meu filhote acontece exatamente isso do nathan.
    o banquinho é a solução para os seus problemas.

    mas confesso que gostei mais ainda da escada do nathan, pois ela parece mais alta, o que permite melhor acesso aos lugares mais altos.

    parabéns por ser uma mãe paciente e dedicada, ao invés de enlouquecer de vez (ok, às vezes é enlouquecedor, mas passa).
    o mundo precisa de mais mães como você.

    beijos,

    luíza

    ps: tb achei seu blog no grupo do montessori para mamães

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  4. parabééééns pelo texto lindo e pela inclusão do seu pequeno na rotina da sua casa!!!
    aqui eu tb faço muuuuuito isso!! e Miguel tá sempre em cima de alguma coisa pra poder espiar (e xeretar!) o q estamos fazendo...

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  5. Oiii tbm conheci seu blog pelo Montessori para mamães, lindooo vou seguir!
    Dá uma passadinha no meu aqui: http://alicedentroeforadabarriga.wordpress.com

    Bjs

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  6. Viver

    Ivone Boechat

    A vida é uma flor aberta,
    esperando alguém para extrair-lhe o mel;
    quando o vento da tristeza,
    das dores, das preocupações
    balança tudo, reforça você.
    Sabe por que?
    A flor é eterna, o mel nunca se acaba,
    fica escondido numa taça de perfume
    e a gente faz que não vê.
    Alegria, paz, harmonia, amor,
    por maior que seja a dose, nunca embriaga;
    dá plenitude, força e vontade
    de sair plantando
    as flores da esperança, da bondade.
    Assim, louvando a vida,
    é preciso amanhecer criança,
    cheia de ansiedades
    para beber uma taça desse mel,
    com aroma e sabor de oportunidades.

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