sexta-feira, 26 de abril de 2013

Um dia comum

   Era um dia como outro qualquer, em um lugar comum, nossa casa. Junto com o despertar do sono da tarde surge uma pergunta: que atividade fazer com meu pequeno? Que passeio poderíamos fazer para tornar nossa tarde mais divertida?
   Pensamento em branco, ideias não criativas, possibilidades comuns... Eis que surge algo em minha mente, um passeio de bicicleta. Sol, mar, vento, exercício, é tudo que eu preciso! Então vamos lá! Lanchinho, água, roupa apropriada, cadeirinha para o Nathan e animação.
   A primeira resposta do Nathan ao meu convite foi um sim, depois que arrumei tudo e estávamos prontos para sair a resposta foi não e não tinha jeito que convencê-lo do contrário. Fiquei arrasada, pois já tinha idealizado tudo, queria muito ir, mas tenho um filho de 2 anos que muda de opinião a todo o instante e se acha cheio de razão. Então perguntei: “o que você quer fazer”? E ele: “qué bincá”. E lá fomos nós, “bincá” no seu quarto. Eu estava tão chateada que nem conseguia participar da brincadeira direito. Mas tentei me superar e encarar a brincadeira como uma atividade melhor do que andar de bicicleta.
   Alguns minutos passaram, uma meia hora talvez, e ele vem com a frase: “qué saí”. Perguntei mais umas duas vezes cada frase para ter certeza da resposta: “Você quer sair? Quer passear? Quer andar de bicicleta”? Sim para todas as respostas, saí porta afora antes que viesse um não. E lá fomos nós, felizes (isso é o que importa).
   Tira cadeado, arruma o banco, coloca a cadeirinha, senta a criança, pendura a mochila, coloca o cinto, prende o pézinho. Ufa, estamos prontos, bicicleta em movimento!

   Assim que saio do prédio me deparo com uma paisagem perfeita de outono, um pôr do sol maravilhoso, incrível. Logo pensei: “saímos no momento perfeito, não poderia ter horário melhor”. 
O “qué bincá” até teve mais valor na minha avaliação.
   Estávamos felizes, olhando a paisagem, sentindo o vento... Não pude me manter calada frente a tanta beleza. Comecei a falar para o Nathan do céu, do mar, das montanhas... Contei sobre as belezas da Criação e chamei sua atenção para os detalhes. Expliquei sobre a pintura que Deus tinha feito no céu especialmente para ele, pois sabia do nosso passeio de bicicleta. Os tons de laranja e amarelo se misturando com o azul escuro que chegava aos poucos. O rastro dourado no mar cheio de brilho, contornado por um azul profundo. E as montanhas, que em breve teriam mais destaque na paisagem, pois era para lá que o sol estava indo, logo ele iria se esconder atrás delas.

   O sol se foi e chegamos ao destino. Estacionamos a bicicleta perto dos exercícios e sentamos no banquinho para comer uma fruta e continuar apreciando a paisagem. O azul ia tomando conta e olhando para o outro lado um novo brilho no céu. “Mamãe, a lua, banca”. Quanto amor pela lua, ele sempre me chama para ver.
   Fomos caminhar e adiante no caminho uma rampa em direção ao mar. Com um pouco de cautela fomos descendo e observei pedrinhas nas laterais da rampa. Claro que o Nathan pediu para jogar pedrinhas no mar, ele adora. Então peguei várias, das grandes, para fazer “ploft” bem alto e ele se divertir. E ficamos jogando muitas pedrinhas até ele dizer “deu”.
   Além do azul do céu, a brisa fresca do outono. Hora de voltar! Como diz o Nathan, “tá noite”. Isso mesmo, bicicleta em movimento rumo ao nosso lar. No caminho, muitas pessoas, cachorros, vento da noite e pensamentos...
   Pensamentos de satisfação, contemplação, alegria por um momento perfeito com meu filho. Num dia comum, algo incomum. Momento perfeito, com uma descrição simples. Sem registros fotográficos, mas com imagens no coração. Nada de mais para quem lê, mas é tudo para quem vive.
   A natureza se encarrega dos ensinamentos e de nos proporcionar a felicidade plena, que preenche a alma, enriquece nosso espírito. Será mais um pôr do sol ou será aquele pôr do sol quando andei de bicicleta com meu filho? A natureza é o cenário das nossas histórias, a moldura das nossas vivências.
   O que isso acrescentou na vida do meu filho? Não sei exatamente! Nem tudo eu sei e talvez nunca saberei. O que sei é que vivemos um momento feliz, jogamos pedrinhas no mar e agora ele sabe que quando o sol vai embora ele se esconde atrás das montanhas.
   Pode parecer besteira, ensinamento sem propósito ou tempo perdido. Eu penso que o que vale é aquilo que sentimos no coração e isso vai muito além de uma avaliação racional sobre aprendizado ou análise sobre aproveitamento do tempo. O que é o tempo senão aquilo que vivemos intensamente, de todo o coração? Aprendizado é a quantidade de conhecimento ou a intensidade do que vivemos?
   O mundo nos mostra alguns valores, mas o nosso coração anseia por outros, onde o aprendizado se relacione com nossas vivências e o tempo não se relacione com dinheiro.


   Nossa alma se nutre daquilo que vivemos e de como vivemos, assim como nosso corpo se nutre dos alimentos que ingerimos. Portanto, cuide da sua alma, alimente-a com belezas naturais e momentos que te façam respirar fundo e relaxar. Assim seu coração baterá melhor e você conseguirá ouvi-lo, não só a quantidade de batimentos por minuto, mas quanto de vida há em você por minuto. Viva a Vida!


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