Um cartão pendurado na porta balança com o vento exalando o amor de um filho pelo seu pai.
Corações vermelhos feitos com carimbos de uma rolha de vinho, frases ditas por
ele e escritas pela mamãe. “Papai, eu quero dizer eu te amo. Eu gosto de
brincar e trabalhar com você. Eu gosto de comer e fazer lanchinho com você.
Você é meu amigo. Feliz dia dos pais”.
Nosso dia dos pais começou assim e com um presente
diferente, pois combinamos em não dar presentes nessa data e sim fazer um
programa especial para aproveitarmos o dia juntos. Mas, para esse programa precisávamos
do presente. O pacote é aberto e dentro há duas pipas, uma para o papai e outra
para o Nathan. A tão esperada pipa que os dois queriam!
Empolgação para a partida, preparativos, muitos casacos para
aguentar o frio, máquina fotográfica e tudo pronto para sairmos. A primeiro
destino já tínhamos definido, o restante ficaria por conta do vento que nos
levaria para onde quisesse.
“Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo”
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo”
Tempo Perdido (Renato Russo)
Na noite anterior eu e meu marido assistimos o filme “Somos
tão Jovens”, que conta a história de Renato Russo, da banda Legião Urbana. Um
filme intenso, cheio de emoções e inconformações com este mundo. Um filme que
trouxe muitas lembranças da minha vida, verdades e reflexões sobre minhas
convicções. Inspirados pelo filme, a trilha sonora do nosso passeio foi Legião
Urbana. Músicas que não escutava há anos e que hoje tiveram outro sentido para
mim. Poesia simples e verdadeira. Emoção e revolução. Nosso filho no banco de
trás, perguntando a cada música quem tocava e nós na frente refletindo sobre o
que é viver. O carro cercado pela paisagem exuberante da Lagoa da Conceição e
eu ansiosa para chegar a praia da Joaquina, nosso primeiro destino.
Esse destino já foi nosso em outros momentos, quando íamos
nos inundar daquele mar e encher nosso coração para uma jornada juntos, que nem
sabíamos como começaria, muito menos que
rumo tomaria. Tempos depois voltamos, com o fruto dessa jornada dentro de mim.
Eu, ainda sendo casulo do meu filho, sem imaginar que logo me tornaria borboleta
no seu nascimento. E nós dois de volta aquela praia, agora sendo três. Vento
forte como o de hoje, gaivotas como naquela primeira vez. A fúria do mar e a
pintura do céu foram o cenário das nossas fotos. Lembranças de um momento
único, a espera pela chegada dele, nosso presente de Deus, e o nascimento de um
pai e de uma mãe.
“Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça:
Venha que o que vem é perfeição”...
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça:
Venha que o que vem é perfeição”...
(Perfeição - Renato Russo)
Após três anos voltamos lá. Ao invés da praia
fomos para as dunas, pois hoje foi dia de pipa. Relembrando a nossa infância e
vivendo a infância com nosso filho. O Nathan olha para o céu, abre a boca e
depois diz: “mamãe, tô comendo vento”. Na caminhada nas dunas fala: “uma
montanha”! E eu explico que uma montanha de areia perto da praia se chama
dunas.
Com muita vontade e pouca técnica tentamos
inúmeras vezes empinar a pipa, mas sempre depois de alguns segundos no ar ela
insistia em cair no chão. Fomos no alto para ajudá-la a subir, mas o vento
fazia ela descer. Nathan otimista dizia: “agoa vai dá céto”. Tentamos mais
algumas vezes até que decidimos aprimorar nossas técnicas e tentar outro dia.
Enquanto isso, Nathan preparava um bolo de areia para o dia dos pais. No topo
das dunas da Joaquina um bolo de areia, com uma vela de palito de picolé e o “parabéns”
pelo dia. Existe momento mais perfeito que esse? Não! Após comermos alguns
pedaços, deixamos o bolo ali para outras pessoas comerem e corremos nas dunas,
com a velocidade da nossa fome, rumo ao próximo destino, ainda incerto.
Uma parada para ver o mar e outra na feirinha,
que nos rendeu óculos escuros super fashions. Nathan feliz, pois tinha encontrado
um que cabia em seu rosto e agora podia olhar para o sol sem fechar os olhos.
Como é bom ser feliz com coisas simples. Um dos grandes aprendizados da
maternidade foi esse: aprendi a apreciar coisas muito simples e ficar
extremamente feliz com isso.
Na Avenida das Rendeiras um restaurante nos
chamou atenção pelo preço, cardápio e aparência. É aqui! Perfeito para nós,
música ao vivo, mesa ao ar livre do lado do músico, espaço amplo para crianças correrem,
comida gostosa e vista para a Lagoa. Outro momento perfeito. Acho que o dia
estava sendo preparado especialmente para nós! E lá ficamos por um longo
período desfrutando de mais esse presente. E mais uma vez o pensamento: como é
bom apreciar as coisas simples!
“Quem um dia irá dizer que não existe razão para as coisas feita pelo o
coração”?
(Renato Russo)
Depois de um longe período ali, voltamos para
a casa. Ainda apreciando a paisagem, ainda escutando Legião. Todos felizes
apreciando momentos perfeitos.
"Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo, prefiro acreditar
no mundo do meu jeito."
(Renato Russo)
E nessa comemoração a certeza que já existia
dentro de nós: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você
parar para pensar, na verdade não há”. (Renato Russo)
No fim da tarde meu filho fala: “mamãe,
bigado pelo passeio”. E no fim do dia meu marido fala: “obrigado pelo dia,
adorei, estava tudo ótimo”.
Em meio a pensamentos, inquietações,
trabalhos e incertezas, momentos perfeitos aparecem e saltam a nossa frente nos
lembrando o que realmente importa, o que tem valor. Nem tudo estará certo
sempre, nem tudo estará resolvido no momento que queremos, mas o vento se
encarrega de fazer esse vai e vem em nossas vidas. Nós precisamos acompanhar
esse balanço sem perder o equilíbrio, apenas indo e vindo com movimentos leves
sem perder o eixo, as raízes que nos mantém firmes. Alguns dias serão de
calmaria, outros de ventos fortes, mas uma árvore bem plantada e cuidada mantém
suas raízes firmes ao chão.
“Quando tudo nos parece dar errado
Acontecem coisas boas
Que não teriam acontecido
Se tudo tivesse dado certo”.
Acontecem coisas boas
Que não teriam acontecido
Se tudo tivesse dado certo”.
(Renato Russo)
"Como expressar nas palavras,
os gestos que queria fazer,
as coisas que gostaria de ver,
os belos amanhecer e entardecer,
e o sombrio morrer...
faltam-se falas.
Mas ao expressar
o simples fato de escrever, falar,
nada existe para preocupar...
nada pode deturpar,
na essência pelo chorar,
no gesto por beijar,
comover e alavancar
o puro e simples "amar".
os gestos que queria fazer,
as coisas que gostaria de ver,
os belos amanhecer e entardecer,
e o sombrio morrer...
faltam-se falas.
Mas ao expressar
o simples fato de escrever, falar,
nada existe para preocupar...
nada pode deturpar,
na essência pelo chorar,
no gesto por beijar,
comover e alavancar
o puro e simples "amar".
(Renato Russo)
Lindo, Vida!!! A sua sensibilidade, emoção, puro amor!
ResponderExcluirE Legião embalou muitos anos da minha vida, não consigo ouvir sem me emocionar.
Lindo!!
Beijos,
Rapha
Ciranda Materna