domingo, 11 de agosto de 2013

Temos todo o tempo do mundo com o puro e simples "amar"



   Um cartão pendurado na porta balança com o vento exalando o amor de um filho pelo seu pai. Corações vermelhos feitos com carimbos de uma rolha de vinho, frases ditas por ele e escritas pela mamãe. “Papai, eu quero dizer eu te amo. Eu gosto de brincar e trabalhar com você. Eu gosto de comer e fazer lanchinho com você. Você é meu amigo. Feliz dia dos pais”.

   Nosso dia dos pais começou assim e com um presente diferente, pois combinamos em não dar presentes nessa data e sim fazer um programa especial para aproveitarmos o dia juntos. Mas, para esse programa precisávamos do presente. O pacote é aberto e dentro há duas pipas, uma para o papai e outra para o Nathan. A tão esperada pipa que os dois queriam!

   Empolgação para a partida, preparativos, muitos casacos para aguentar o frio, máquina fotográfica e tudo pronto para sairmos. A primeiro destino já tínhamos definido, o restante ficaria por conta do vento que nos levaria para onde quisesse. 


“Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo”

Tempo Perdido (Renato Russo)



   Na noite anterior eu e meu marido assistimos o filme “Somos tão Jovens”, que conta a história de Renato Russo, da banda Legião Urbana. Um filme intenso, cheio de emoções e inconformações com este mundo. Um filme que trouxe muitas lembranças da minha vida, verdades e reflexões sobre minhas convicções. Inspirados pelo filme, a trilha sonora do nosso passeio foi Legião Urbana. Músicas que não escutava há anos e que hoje tiveram outro sentido para mim. Poesia simples e verdadeira. Emoção e revolução. Nosso filho no banco de trás, perguntando a cada música quem tocava e nós na frente refletindo sobre o que é viver. O carro cercado pela paisagem exuberante da Lagoa da Conceição e eu ansiosa para chegar a praia da Joaquina, nosso primeiro destino.

  
 
   Esse destino já foi nosso em outros momentos, quando íamos nos inundar daquele mar e encher nosso coração para uma jornada juntos, que nem sabíamos como  começaria, muito menos que rumo tomaria. Tempos depois voltamos, com o fruto dessa jornada dentro de mim. Eu, ainda sendo casulo do meu filho, sem imaginar que logo me tornaria borboleta no seu nascimento. E nós dois de volta aquela praia, agora sendo três. Vento forte como o de hoje, gaivotas como naquela primeira vez. A fúria do mar e a pintura do céu foram o cenário das nossas fotos. Lembranças de um momento único, a espera pela chegada dele, nosso presente de Deus, e o nascimento de um pai e de uma mãe. 


 



“Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça:
Venha que o que vem é perfeição”...

(Perfeição - Renato Russo)









   Após três anos voltamos lá. Ao invés da praia fomos para as dunas, pois hoje foi dia de pipa. Relembrando a nossa infância e vivendo a infância com nosso filho. O Nathan olha para o céu, abre a boca e depois diz: “mamãe, tô comendo vento”. Na caminhada nas dunas fala: “uma montanha”! E eu explico que uma montanha de areia perto da praia se chama dunas. 
   Com muita vontade e pouca técnica tentamos inúmeras vezes empinar a pipa, mas sempre depois de alguns segundos no ar ela insistia em cair no chão. Fomos no alto para ajudá-la a subir, mas o vento fazia ela descer. Nathan otimista dizia: “agoa vai dá céto”. Tentamos mais algumas vezes até que decidimos aprimorar nossas técnicas e tentar outro dia. Enquanto isso, Nathan preparava um bolo de areia para o dia dos pais. No topo das dunas da Joaquina um bolo de areia, com uma vela de palito de picolé e o “parabéns” pelo dia. Existe momento mais perfeito que esse? Não! Após comermos alguns pedaços, deixamos o bolo ali para outras pessoas comerem e corremos nas dunas, com a velocidade da nossa fome, rumo ao próximo destino, ainda incerto.





   Uma parada para ver o mar e outra na feirinha, que nos rendeu óculos escuros super fashions. Nathan feliz, pois tinha encontrado um que cabia em seu rosto e agora podia olhar para o sol sem fechar os olhos. Como é bom ser feliz com coisas simples. Um dos grandes aprendizados da maternidade foi esse: aprendi a apreciar coisas muito simples e ficar extremamente feliz com isso.

   Na Avenida das Rendeiras um restaurante nos chamou atenção pelo preço, cardápio e aparência. É aqui! Perfeito para nós, música ao vivo, mesa ao ar livre do lado do músico, espaço amplo para crianças correrem, comida gostosa e vista para a Lagoa. Outro momento perfeito. Acho que o dia estava sendo preparado especialmente para nós! E lá ficamos por um longo período desfrutando de mais esse presente. E mais uma vez o pensamento: como é bom apreciar as coisas simples!


“Quem um dia irá dizer que não existe razão para as coisas feita pelo o coração”?

(Renato Russo)



  
   Depois de um longe período ali, voltamos para a casa. Ainda apreciando a paisagem, ainda escutando Legião. Todos felizes apreciando momentos perfeitos.


"Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo, prefiro acreditar 
no mundo do meu jeito."

(Renato Russo)


   E nessa comemoração a certeza que já existia dentro de nós: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade não há”. (Renato Russo)

   No fim da tarde meu filho fala: “mamãe, bigado pelo passeio”. E no fim do dia meu marido fala: “obrigado pelo dia, adorei, estava tudo ótimo”.

   Em meio a pensamentos, inquietações, trabalhos e incertezas, momentos perfeitos aparecem e saltam a nossa frente nos lembrando o que realmente importa, o que tem valor. Nem tudo estará certo sempre, nem tudo estará resolvido no momento que queremos, mas o vento se encarrega de fazer esse vai e vem em nossas vidas. Nós precisamos acompanhar esse balanço sem perder o equilíbrio, apenas indo e vindo com movimentos leves sem perder o eixo, as raízes que nos mantém firmes. Alguns dias serão de calmaria, outros de ventos fortes, mas uma árvore bem plantada e cuidada mantém suas raízes firmes ao chão.



“Quando tudo nos parece dar errado
Acontecem coisas boas
Que não teriam acontecido
Se tudo tivesse dado certo”.

(Renato Russo)






"Como expressar nas palavras,
os gestos que queria fazer,
as coisas que gostaria de ver,
os belos amanhecer e entardecer,
e o sombrio morrer...
faltam-se falas.

Mas ao expressar
o simples fato de escrever, falar,
nada existe para preocupar...
nada pode deturpar,
na essência pelo chorar,
no gesto por beijar,
comover e alavancar
o puro e simples "amar".
(Renato Russo)

Um comentário:

  1. Lindo, Vida!!! A sua sensibilidade, emoção, puro amor!
    E Legião embalou muitos anos da minha vida, não consigo ouvir sem me emocionar.

    Lindo!!

    Beijos,

    Rapha

    Ciranda Materna

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