Nunca tive grandes riquezas
materiais, não nasci num palácio e nem tenho grandes ambições na vida. Nunca
viajei para fora do país e nunca tive condições de ter as melhores roupas,
bolsas e sapatos. Estudei numa faculdade particular com muito esforço, vendo
desfiles de moda e carrões, enquanto eu ia de ônibus e esses carrões nem
paravam para oferecer carona. O sonho da
casa própria ainda parece distante de alcançar, assim como o de um carro melhor
e outras coisas que é possível com o dinheiro.
Nesse mundo capitalista parece que estas são as coisas mais
importantes do mundo, as quais devem ser as primeiras frases de um texto, o
título de um livro e a motivação para suportar um trabalho chato. Não ter é
sinônimo de desânimo, insatisfação e infelicidade. Mas o não ter me ensinou a
ter outras coisas, que antigamente, na minha imaturidade de adolescente e jovem
adulta não percebia o quão valioso era. Não ter o que muitos tinham me ensinou a ter o que muitos não têm e até hoje buscam sem nem saber.
Eu aprendi a ser honesta e verdadeira, a valorizar pequenos
gestos e presentes feitos pelas minhas mãos. Também aprendi que os presentes
mais significativos são aqueles feitos por mim e não comprados em grandes
lojas. Valorizar o que se tem é muito melhor do que aquilo que não se tem. Isso
gera contentamento, o que não me impede de sonhar e lutar pelo o que quero, mas
aceitar e ser feliz com o que tenho no momento. Aprendi também, que ser feliz
consiste em apreciar as coisas simples, como o sorriso de uma criança, um por
do sol, uma tarde agradável no parque, uma conversa gostosa. Isso me enriquece
e enche meu coração de alegria.
Ser feliz é viver e para viver não precisa ter dinheiro,
pois viver consiste em muito mais que isso, é desfrutar do tempo, das
oportunidades, das pessoas, dos lugares e muitos desses desfrutes não é o
dinheiro que proporciona. Muitos têm dinheiro e não vivem, ou por não saberem
ou por não terem tempo para isso.
Depois que me tornei mãe essas riquezas que tenho no coração
transformaram-se em presentes, que dou ao meu filho a cada dia com muito amor.
Ainda não posso dar presentes de lojas, os brinquedos e roupas ele ganha de
pessoas queridas. Muitos deles gostaria de dar, e as vezes fico triste por isso,
mas quando o vejo feliz, cheio de amor no coração se relacionando alegremente
com as pessoas e deixando-as felizes com sua companhia percebo que aquilo que
dou para ele é o maior presente, um tesouro que não tem valor, o presente
precioso, meu tempo. O tempo em que poderia estar trabalhando para ganhar
dinheiro e comprar presentes e lanches para o Nathan estou passando com ele,
oferecendo presentes para seu coração e alimento para sua alma. E isso não se
encontra em nenhuma loja, em nenhum shopping e não é possível fabricar, apenas
pode ser cultivado dentro do coração. É isso que estou ensinando ao meu filho
diariamente, no tempo que passamos juntos.
E ele está aprendendo... Com três anos sabe o valor de um
abraço, de um beijo e também sabe que um abraço pode ser temperado com “eu te
amo”. Também aprendeu que existem palavras mágicas muito importantes: por favor,
obrigado, com licença e desculpa. Estar feliz por ter brincado com alguém ou
ter recebido uma visita é mais importante do que o fim da brincadeira ou o “tchau”da
visita. A beleza das flores é maior do que a de um brinquedo. A música preenche
o coração e o barulho dos carros incomoda. O colorido do céu enche os olhos,
assim como a escuridão dele nos avisa que é hora de dormir. Ser amoroso é não
gritar com as pessoas e falar com educação. Uma formiga é tão importante quanto
um cachorro e paramos para olhar os dois quando passeamos no parque.
E é isso que aprendemos no tempo que passamos juntos. E esse
aprendizado vai além de livros, estudos, aulas e televisão. Carregamos os
tesouros do coração por toda nossa vida. Eles sustentam nossas escolhas,
peneiram as amizades, filtram o que ouvimos e vemos e são a base para
sobreviver às adversidades da vida. Nos fortalecem na luta e não permitem que
nossos sonhos morram mesmo que pareçam impossíveis.
São esses tesouros que me fazem continuar lutando pelo que
acredito e me mantendo com convicção nas escolhas que faço, as quais aos olhos
do mundo não parecem tão boas assim, mas para mim, são a felicidade plena, a
certeza de um mundo melhor, onde invisto tempo e amor e recebo muito mais do
que dou. Isso não existe no mundo lá fora, mas se cultivarmos pode ser mais
real e comum a todos.
Amei parabéns, Bjssss
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